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Mano x Felipão

Quando Felipão chegou ao Palmeiras, duas linhas de pensamento taxativas prevaleceram dentro do debate. De um lado, a turma do “sangue na veia, precisamos de um motivador, de um cara firme perante o vestiário, com experiência, DNA vencedor”; do outro, a panelinha do discurso supostamente mais “tático”: “Scolari não passa de um técnico obsoleto, há anos não faz nada interessante em termos estratégicos, é adepto de um estilo de jogo claramente rústico – ‘Kick and Rush’, ligações diretas…”. Mostrava-se óbvio, no instante da contratação assinalada, que nenhuma dessas respostas era exatamente inteligente. O futebol e sua tara determinista não conhecem limites. Muitas vezes a análise mais condizente com a verdade, mais corajosa, até, é banhada por algumas camadas de “não sei” – ou algo análogo.

Se encantar apenas com o peso do nome, escanteando as necessárias doses de relativizações acerca de uma falta de sofisticação demonstrada, sim, num passado recente, seria erro que desnudaria deficiência de conhecimento e uma espécie de espírito anti-intelectual. Se deixar levar por certo tipo de tecnicismo exacerbado, se perder numa vaidade que se regozija com a projeção e uma autoimagem de “crítico” e/ou “estudioso”, resultaria numa retórica carente de sabedoria, de sensibilidade para apreender circunstâncias do caso em tela, possíveis méritos do nosso personagem – inclusive no âmbito tático –, e determinadas características do futebol. Nem sempre indispensável é o mais profundo para a coisa encaixar, e isso perceber não há de acarretar numa desvalorização do conhecimento, do estudo. De novo: é preciso abrir alas, ter humildade para dizer “não sei”, “não tenho certeza”.

Há uma incompreensão rondando as falas mais comuns na imprensa a respeito do Cruzeiro. Em geral, não se tem o tino para absorver como as coisas vão acontecendo, a sequência dos eventos, as circunstâncias vividas e que vão sendo formadas. Também no que tange à Raposa, muletas usadas como platitudes vêm dominando as arengas. “O time pode jogar mais”: eis uma proposição frequentemente utilizada de modo a pouco dizer; um tom “crítico”, porém confortável, que teoricamente isenta das acusações de subserviência e no fundo não “ameaça” ninguém, se prova totalmente domesticado. 

Salvo exceções – duelo contra o Botafogo, por exemplo –, o que Mano e seus comandados têm feito se equilibrando em meio a um calendário maluco, a contusões numerosas, erros de arbitragem comprometedores, e performances nas quais padeceram pela pouca pontaria é digno de contundentes elogios. Pouco e – mal – se contextualiza/enxerga as limitações físicas que impedem a equipe de alçar voos mais altos. Thiago Neves é um dos que mais oscila neste aspecto. Compreensível não tirar do time titular pelas virtudes com as quais agrega, mas repetidamente com dificuldades sérias para chegar em passes colocados na frente, para aproveitar espaços em lances mais verticais, conduzindo a bola, exibindo mínima explosão.

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