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Louvre tupiniquim

Não há como comparar, mesmo para os brasileiros mais ufanistas, o que é e representa o Museu Du Louvre com o esturricado Museu Nacional, ainda que se empreste ao seu passado um lustro e uma imponência que todos nós, mesmo os que até domingo nem sequer sabiam-no existir, adequadas a alguma coisa que recebe o título de “mais importante da América Latina”.

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Mas dá para sugerir uma comparação, tão breve quanto as linhas desse texto, entre a importância que franceses, ingleses, italianos e até russos dão à história e à memória e o que para nós, brasileiros, representa um museu, uma pinacoteca, uma exposição de artes ou como isso nos define como sociedade. Somos um país adolescente quando comparados aos vovôs europeus ou aos bisavôs asiáticos.

História, aqui, ainda é medida em anos, no máximo em décadas, quando nossos irmãos mais velhos contam em séculos, alguns deles em milênios. Luzia e os esqueletos de dinossauros, que resistiram ao tempo, mas sucumbiram à negligência, eram visitados não com o espírito que inspira um inglês diante da Pedra de Roseta, ou um italiano à frente de Caravaggio: estávamos mais para “Uma noite no museu”, comédia hollywoodiana.

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Adolescentes raramente gostam de histórias, já que se imaginam donos do futuro. Nós fomos gerados e embalados à sombra da ideia de que “O Brasil é o país do futuro”, e parte grande de nossa atual ressaca cívica deve-se à descoberta de que, a rigor, tornamo-nos “um museu de grandes novidades”, como disse magistralmente Cazuza, talvez porque “o tempo passou na janela e só Carolina não viu”, agora recorrendo a Chico. Não, definitivamente não nos interessamos pela nossa história e permitimos que “estórias” impregnadas de ideologia formem o que apelidamos de “alma brasileira”.

Somos descritos como povo pacífico, mas nos três séculos passados os brasileiros travaram mais conflitos internos que Estados Unidos, Inglaterra e França juntos. Ensinaram-nos que arte é pintura italiana, escultura grega, música alemã ou cinema francês, o que nos fez acreditar que a cerâmica marajoara servia só como urna funerária ou que bonecos do folclore nordestino são apenas personagens de carnaval. O museu pegou fogo porque nos lixamos para esse tipo de  assunto.

Isso, mais que os 7×1 que levamos da Alemanha, explica a tal “síndrome de vira-latas”. Triste é que, mesmo diante de tantas oportunidades e dores, não aprendamos a ajustar o foco. Por alguns dias saem de cena os especialistas em direito e política na internet e surgem, para explicar outra tragédia humana e cultural, os bombeiros e orçamentistas de Facebook.

Estamos diante de uma oportunidade de reescrevermos nossa história, nas eleições, mas parece que o tema cultura vai perecer, mais uma vez, “crucificada entre dois ladrões”.

Caro leitor, cara leitora. Com esse texto encerro minha colaboração nas páginas do Metro Jornal. Quero agradecer imensamente a atenção que recebi ao longo desses últimos anos. Muitíssimo obrigado.

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