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Os mesmos

Ainda é muito cedo para arriscar quem serão os vencedores das eleições deste ano. Mas uma esperança já foi derrotada: a de vermos algum tipo de renovação na política brasileira. Eleições como a de Trump, nos Estados Unidos, e Macron, na França, fizeram crescer a expectativa  do surgimento de um rosto novo no mundo político-administrativo, corroído pela ineficiência e pela corrupção, chagas vivas no Executivo, Legislativo e Judiciário.

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Hoje, essa expectativa se resume a uma ou outra candidatura, mas os números soterram qualquer possibilidade de mudança do atual estado das coisas. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, mais de 90% dos deputados federais tentarão a reeleição. O número ainda não é exato por conta de possíveis decisões da Justiça Eleitoral, mas entre 410 e 480 dos 513 parlamentares tentarão se manter nos cargos, muitos deles de olho na manutenção do foro privilegiado, capaz de mantê-los da alça de mira da Lava Jato e do juiz Sergio Moro.

O número também é recorde no caso do Senado: dos 54 senadores cujos mandatos se encerram no começo do próximo ano, 29 disputam reeleição para tentar continuar em seus cargos. Também na disputa presidencial temos um grupo de candidatos com larga história na política. A presença de exceções, como João Amoêdo, só confirma a regra geral de presença de velhas caras onde se esperava por uma renovação.

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Há uma parcela de responsabilidade dos eleitores nesse quadro, porque eles desejam um “outsider”, alguém de fora da política, mas imediatamente repelem ou duvidam de figuras com esse perfil, por não terem experiência, por serem de outras áreas, por alguma outra deficiência qualquer. Sem entrar no mérito das candidaturas, foi assim com Luciano Huck e com Joaquim Barbosa.

Mas a questão maior é nosso sistema político-eleitoral. Ele simplesmente impede o surgimento de lideranças fora da estrutura tradicional, montada e comandada pelos políticos de sempre. E por ser comandada por essas figuras, existe a quase certeza da repetição dos mesmos erros e desvios na relação entre o Executivo e o Legislativo, com toma lá-dá cá, compra de votos, Ministério transformado em condomínio de interesses políticos, etc.

Em outras palavras, a eleição deverá manter boa parte do esquema montado por deputados e senadores do Centrão no Congresso. Hoje aliados de Geraldo Alckmin (PSDB) na briga pela presidência, esses parlamentares estarão dispostos a conversar com quem estiver na presidência, independemente de seu partido, religião, ideologia…. Porque a origem das bene$$es direcionadas a deputados e senadores mudou, nos últimos anos, conforme quem ocupava o Planalto: já foi do PSDB, do PT e, hoje, está nas mãos do MDB.

Mas o destino foi quase sempre o mesmo. As mesmas figuras. Os mesmos políticos, aqueles mesmos homens responsáveis pela nossa mesmice política, base de nossas muitas misérias…

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