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Protagonista

Existem palavras que definem rumos no mapa, como “norte”, que substituem datas no calendário, como “Natal”, ou que exprimem estados de alma, como “triste” ou “alegre”. Não demandam explicações ou complementos, e qualquer adjetivo ou adjunto que recebam não as tornam melhores nem piores, porque bastam-se a si mesmos: são antes e continuarão sendo independentemente do aditivo posto ou retirado.

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O protagonista é, desde imemoriais tempos do teatro grego, personagem ou indivíduo que possui o papel de mais destaque nas obras. Quem assume o protagonismo pode ser acusado de tudo, menos de omissão. Vivemos tempos onde a tal terceirização ultrapassou os limites das linhas de produção e das atividades de entes públicos, e passou a ocupar espaço em quase todos os setores de nossas vidas.

Muitos de nós, em tenra idade, tivemos babás que fizeram por nossas mães o que estas, por falta de tempo, vocação ou paciência não quiseram ou não puderam fazer, como também professores que nos ensinaram muito mais do que seu compromisso com a escola impunha. O excesso de tarefas que nos impomos ou que nos são impostas porque precisamos produzir e ganhar mais para pagar o cada dia mais alto preço dos itens de sobrevivência e bens de consumo que até vinte ou trinta anos sequer existiam para a espécie humana faz com que deixemos para vigias, síndicos, porteiros, cozinheiros, aquilo que nossos antepassados jamais cogitariam em delegar, quer porque não dispunham dessas comodidades, quer porque não precisassem delas.

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Então assumimos um comportamento cada dia mais secundário em nossas vidas, deixando ao encargo de outras pessoas assuntos que dizem respeito a situações até mesmo íntimas e pessoais, como a aparência que nos agrada ter, a escolha da roupa que nos traz conforto usar, o tempero ou a natureza do alimento que ingerimos, as decisões que devemos tomar até mesmo para seguir ou interromper a vida.

Tornamo-nos perigosamente dependentes da opinião e, mesmo, da atitude de estranhos ao nosso eu mais profundo para nos sentirmos bem ou mal, satisfeitos ou chateados, seguros, representados. Incorporamos ao nosso cotidiano expressões como “coach” para esconder vergonhosamente a dependência quase química que nos impusemos de pensarem por nós, decidirem por nós, nos dizerem que isso ou aquilo é bom ou mal, desejável ou indesejável.

Raro ver, hoje em dia, no ambiente material ou virtual, alguém com opiniões próprias, ideias próprias, assumindo o risco da dor, do erro, da crítica ou do mal-querer às vezes apenas por demonstrar o que é, quer ou pensa. Por mais simpáticas e aparentemente brilhantes que sejam as baboseiras borrifadas pelo mais festejado guru do momento ou até pela mais fofa blogueira da moda, não se alcança a felicidade sem autonomia. 

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