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Abertura da Rússia

Estava na Inglaterra, em março deste ano, quando no país só se falava do caso Serguei Skripal – ex-espião russo envenenado na cidade de Salisbury. Neste período, com tamanha polêmica entre as nações, na TV britânica multiplicavam-se os jornalistas e autoridades que, entre outras coisas, aconselhavam as pessoas a não irem à Copa – os anfitriões seriam hostis aos ingleses; opinavam que a trupe de Southgate, em retaliação ao Kremilin, haveria de boicotar o mundial, sequer participando da competição; e, por fim, debatiam sobre o destino do estratosférico dinheiro russo que invadiu Londres nos últimos anos – o futebol, como se sabe, trás um espelho disso sobretudo na figura de Abramovich, que mudou a vida do Chelsea.

Personagens como Abramovich ajudaram a perpetuar um estereótipo sobre certo tipo de homem russo. Os novos ricos, biliardários, extravagantes, ostentadores… Guarda-costas pra todo lado, sede por celebridade, festas homéricas. Incomum não foi, nos últimos tempos, talvez a reboque deste arquétipo, destas caricaturas específicas, propagar-se a ideia de que, na nova Rússia, o fetiche por marcas, o consumismo entremeado pela influência do capitalismo ocidental seriam extremamente disseminados. Sempre se especula acerca do quão “aberta” estaria a Rússia; neste aspecto, no que tange ao comércio, aos signos de consumo, encontrar-se-ia o país, hoje, bem “avançado”? Não sei até que ponto seria simplório, determinista o vínculo entre esta perspectiva mais macro, que abarca a população geral, o cidadão comum, e a exceção desfrutada por bilionários deslumbrados; tampouco entro aqui em juízos de valor; a resposta seca, simples, para a pergunta feita, todavia, é um sonoro “sim”. Shoppings para todo lado, luxuosos, grandiloquentes; espelhados, decoração com quê de Kitsch; simulacros de Vegas, Nova York, de espaços como a Selfridges, a Harrolds. E se o dinheiro russo permeia Londres, até marcas com aura mais de nicho, vedetes da Cool Britannia são encontradas com considerável facilidade em Moscou; num patamar bem mais alto do que no Brasil, do que em boa parte do “mundo ocidental”: falo das inglesas Topshop, Dr. Martens e Fred Perry; da italiana Stone Island – estas duas últimas extremamente relacionadas à cultura do futebol, do hooliganismo britânico, onipresentes nas arquibancadas na terra da rainha…

No magnífico metrô de Moscou enorme fatia dos milhões de passageiros passa o tempo nos vagões com fones de ouvido plugados em seus celulares. A música de predileção, segundo apurei com diversos locais, costuma seguir as tendências do pop mais rasteiro/adolescente que frequenta as paradas dos EUA e da Europa. Por outro lado, não notei abertura alguma no que se refere ao acesso a veículos de comunicação estrangeiros nas bancas e livrarias: em toda viagem procuro a New Yorker, as revistas inglesas de música, talvez a Four Four Two… Em Moscou, em nenhuma oportunidade obtive sucesso nestas buscas.

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