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Tite e demagogia

Será que as narrativas em torno do futebol precisam sempre ser tão pobres? Será obrigatório resvalar no politicamente correto, naquele ufanismo rasteiro, forçado? Neste tipo de discurso há, ainda que de forma inconsciente, uma subestimação do espectador? Está o brasileiro imbuído do espírito redentor – “pátria de chuteiras” – que tem tomado conta das propagandas?

Há algum tempo pipocam determinadas críticas que versam sobre a faceta marqueteira de Tite. “Encantador de serpentes”, segundo Lugano. Retórica e tom de pastor, lembram alguns. Não vejo problema, claro, quando personagens da bola, honestamente, capitalizam em cima de suas imagens – desde que não haja conflito de interesses. Sobretudo ao tratarmos de figuras completamente resolvidas financeiramente, e já famosas a ponto de algumas inserções a mais basicamente não agregarem na proliferação da popularidade, porém, a publicidade acaba não sendo mais do que um aumento de renda. E nestes casos, despidos de necessidades de qualquer natureza, embora a legitimidade, a priori, permaneça, o zelo, de certa maneira, teoricamente, haveria de crescer. Margem para manobra superior. Posição privilegiada, confortável para sugerir mudanças num texto…

Tite olha para a câmera e diz algo na linha: “sabe o que acho da malandragem, da simulação? Falta de competência”. Quem avisa que o atleta mais hábil do grupo dele é useiro e vezeiro do “cai-cai”? Que o melhor lateral esquerdo do mundo, no nosso vexame diante da Alemanha, mergulhou na área inimiga comicamente antes de o caldo entornar? Exemplos minúsculos, singelos se observarmos o todo. A vida, o futebol não são caricaturais e “preto no branco” assim, Adenor. Talentosos, guardiões de recursos infinitos apelam, pecam eticamente jogo sim e outro também. Humanos, demasiado humanos. A relação entre comportamento e capacidade técnica está a oceanos de distância deste maniqueísmo tão simplório.

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Fala-se que, antes de um bom estrategista, Tite é excelente motivador. Não à toa, a série de anúncios nasce como uma “preleção aos brasileiros”. Se este não era um exemplo atipicamente pouco inspirado do Adenor psicólogo, só não cravo que estamos lascados para a Copa pois, no fim do dia, tendo em vista o nível intelectual do público alvo – os jogadores –, nem sei qual seria o papo adequado para convencimento… E sério que precisa? Considerando o grau de celebridade, riqueza, profissionalismo; os costumes – no sentido de já estarem condicionados, automatizados a “perfomar”, como articularia nosso arauto –, da plateia ouvinte, qual resultado se conseguiria obter com essa linha – se fosse maldoso, diria ladainha?

Tite é ótimo treinador. Estas reflexões feitas não possuem muita – ou qualquer – importância – e no fundo, entregam mais a respeito da sociedade, da publicidade (…); do quão tácitas, enraizadas já se encontram incontáveis tipos de enrolações, baboseiras, nas mais diversas searas (contaminadas, infantilizadas…), do que sobre ele…

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