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Túnel do tempo fora da tela

“Perdidos no Espaço”, “Batman”, “A Feiticeira”… Se alguém imagina ter a febre de acompanhar séries de TV nascido com “Breaking Bad”, “Black Mirror” ou “Friends”, está muito enganado. Acompanhar aventuras por capítulos remonta os tempos de “Zorro” e “Tarzan”. E, de todas as que eu via na infância, uma das mais curiosas era “O Túnel do Tempo”. Nela, Doug (Robert Colbert) e Tony (James Darren), personagens meio nerds, meio valentões, vagavam pelo tempo sem conseguirem ser resgatados pela equipe do laboratório – a qual, aliás, assistia suas aventuras numa tela, intervindo de vez em quando.

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O interessante é que, mesmo criança, eu achava incrível a mira do tal túnel: não bastava chegar na França no século 18 – o negócio era estar no entorno da Bastilha e conhecer Maria Antonieta; atirados na América do Norte em 1876, ajudam o General Custer a escapar de uma emboscada de Touro Sentado; quando caem na ilha de Krakatoa, é bem no dia em que ela será varrida do mapa por um vulcão. Era muita precisão de tempo e espaço em prol de contemplar a História: houvessem caído no Brasil seria, sei lá, para alcançar ao Getúlio a caneta que assinaria sua carta de despedida. Na vida real isso seria inverossímil, pensava. Pensava…

Eis que dois episódios me fizeram repensar os limites da verossimilhança. O primeiro tem pouco mais de 20 anos: conheci o Rio de Janeiro tardiamente, chegando para me hospedar na Barra da Tijuca na noite de 28 de fevereiro de 1998. Essa cidade, nesse bairro e nesta data lembra algo? Sim: foi a noite em que desabou o Palace II, episódio extraordinário a ponto de ser manchete mundial. Poderia ser apenas coincidência se não tivesse recebido faz exatos sete dias o telefonema da minha filha: não bastou a ela estar morando em São Paulo dia 1º de maio – ela estava numa festa de madrugada em pleno Largo do Paissandu, do outro lado da praça vizinha do Edifício Wilton Paes de Almeida. Ou seja, minha pequena família foi por duas vezes testemunha ocular da História em tragédias semelhantes.

Ok. No meio disso, caíram as Torres Gêmeas e nenhum de nós estava em Nova York – ou seja, podem convidar para jantar na cobertura de prédios que não é o caso de ser pé frio. Porém, passei a relativizar a sanha dos roteiristas de “O Túnel do Tempo” em caprichar na mira. E, daqui a muitos anos, eu talvez pareça o vovô Doug ou Tony contando vantagem aos netos. E eles, óbvio, duvidando.

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