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Cazares e a liberdade

Cazares é um jogador com características que se adequam muito claramente a uma função: homem de ligação que atua primordialmente centralizado, por trás do centroavante, sem obrigação de voltar para recompor, fechar a beirada, acompanhar o lateral adversário. Para este tipo de atleta fluir do jeito ideal, no 4-2-3-1 – sistema que o Galo adotou em boa parte do ano passado e que parece ser o escolhido para esta temporada –, os integrantes do trio de meias que fazem o lado do campo usualmente precisam ter uma dinâmica que permita ao arquiteto da equipe flanar com boa dose de liberdade; a questão não é só o equatoriano poder ficar solto, despido da incumbência de preencher as pontas: é possuir esta prerrogativa dentro de um conjunto equilibrado, de um ambiente que forneça a ele uma espécie de sustentação.

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Em 2017 Cazares não teve a chance de jogar, com sequência, da forma que prefere. A principal dificuldade era encaixá-lo junto a Robinho na trinca de armadores. Como nenhum dos dois, sem a bola, mostrava eficiência/cacoete para fechar uma segunda linha de quatro, comum era uma vulnerabilidade defensiva. Ademais, quando Robinho acabava escolhido para ficar pelo centro, e Cazares recebia ordens para fazer o lado tinha-se o entrave de, nem ofensivamente, este ser o trabalho que realça pra valer as qualidades do equatoriano. 

Com Róger Guedes pela direita, e Otero pela esquerda, Cazares terá o cenário ideal para praticar seu futebol; não apenas centralizado e livre do fardo da recomposição, mas acompanhado por “pontas” velozes e com fôlego para preencher os espaços de modo a trazer um balanço coletivo que facilita as coisas para ele. Garantia de sucesso? Por diversos motivos, não dá para cravar. Mas se nem neste panorama tático Cazares aliar regularidade com capacidade para decidir numa frequência adequada…

Se a perspectiva é de que, com Oswaldo, Cazares jogue do seu jeito favorito, o mesmo dá para dizer sobre Otero e Elias. O primeiro, em boa parte da temporada passada, atuou pela direita. Sua preferência, contudo, é jogar pela ponta canhota – destro e tendo como um dos seus principais predicados a finalização de média e longa distâncias, este posicionamento o permite cortar para dentro e chutar com mais facilidade. O segundo, escalado por Roger Machado muitas vezes como um meia bem aberto pela direita, gosta de executar o trabalho de segundo volante – pelo centro e com liberdade para aparecer bastante no ataque, vindo de trás, num movimento típico de “elemento surpresa”. Este foi exatamente o papel de Elias no último domingo, contra o Democrata. Sua dinâmica funcionou permitindo ao time frequentemente variar do 4-2-3-1 para o 4-1-4-1, com fluência, sem um tipo de rigidez que poderia ser prejudicial: quando era necessário, Elias ficava mais próximo de Arouca, com mais cara de volante, protegendo; nas ocasiões propícias, ela avançava, construía, surgia mais ao lado de Cazares, como um segundo armador pelo centro.

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