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Um país hilário

Moramos num país que, a despeito de alguns dissabores quase permanentes, como esse da corrupção sistêmica, tem a sua graça. Ou é hilário, em bom português. Ora, não bastasse o desgaste do presidente Michel Temer com a insistência em nomear a deputada Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho, mesmo tendo sido condenada por burlar a legislação trabalhista, agora é a vez de o seu pai, o ex-deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB – não o de Vargas, mas o que sobrou das artimanhas de Ivete Vargas – defender o fim da Justiça do Trabalho, não por coincidência a mesma justiça que condenou a quase ministra, brindando-a com uma fornida folha corrida.

Há quem pergunte por que Temer entrou nessa de nomear a filha do presidente do PTB. A resposta, nem sempre explicitada é simples. Sem nenhum apoio popular, mas conhecedor dos costumes da Câmara, Michel Temer precisa dos 20 votos do partido de Jefferson para aprovar a claudicante reforma da Previdência, assim como precisou deles quando foi denunciado pelo ex-Procurador Geral da República, Rodrigo Janot. Aliás, com relação à reforma da Previdência, o PTB já fechou questão em seu favor. Isso explica, em parte, a armadilha em que Temer se meteu. Por que a outra parte é explicada pelo veto que o ex-presidente Sarney impôs ao primeiro nome sugerido pelo PTB, o do deputado Pedro Fernandes (PTB-MA), adversário da família Sarney na capitania maranhense.

Chamado para indicar um outro nome da bancada, Jefferson indicou a própria filha. Temer, de olho nos 20 votos do partido, comeu assim na mão dele, sem suspeitar que hoje em dia, mais do que antes, há milhares de redes sociais bisbilhotando a vida pública do país. Não deu outra. Descobriu-se que a deputada, indicada pelo pai, foi condenada várias vezes justamente pela Justiça do Trabalho Resultado: uma chuva de ações na justiça contra a nomeação.

No revide, já antevendo a derrota do governo e a frustração de uma realização pessoal, Jefferson partiu para o ataque à Justiça do Trabalho, onde sua filha foi condenada, defendendo a sua extinção pura e simples por não ver nela sentido e por considera-la cara demais para o país. É possível que alguém mais concorde com ele, não pela frustração de não ver a filha ministra, mas por que, por outras razões, não vê sentido numa justiça que deve mediar os conflitos entre o capital e o trabalho. Com tudo isso, o País é ou não é hilário?

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