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Aqui e acolá (2)

(Confira a segunda parte do artigo de Gustavo Varella Cabral sobre os pontos que aproximam e distanciam duas cidades estruturalmente parecidas: Vitória e San Sebastián, do País Basco, Norte da Espanha.)

San Sebastián é vizinha de Bilbao, também centro pesqueiro, mas rica devido à atividade siderúrgica. Sua cultura é fantástica; e sua gastronomia, baseada em frutos do mar, é considerada por muitos como a melhor do mundo. É o lugar do planeta com maior número de restaurantes estrelados no famoso Guia Michelin. Tem em sua praia – La Perla – a joia da coroa, urbanizada com um calçadão fantástico, com quiosques e banheiros públicos limpos e movimentados. Contam-se às dezenas os espaços para esportes náuticos, ciclismo, corrida, pesca, trekking e futebol, este alimentado pelo fanatismo em torno do Real Sociedad. As ruas são impecáveis, e o trânsito é digno de ser chamado disso, não de balbúrdia. O sistema de transportes é pleno: táxis e alternativos, ônibus (inclusive um coletivo gratuito na zona turística), metrô, trem para todo o continente e aeroporto, ruas e avenidas largas, estradas de quatro pistas de cada lado, pedagiadas, sim, mas completas e perfeitas em termos de serviços. Tirando uma ou outra diferença em função da regionalidade de alguns produtos e do fato dos preços serem em Euro, não há muita discrepância entre o que um basco ou um capixaba pagam na maioria das coisas que consomem, acrescentando que o poder aquisitivo lá é, pelo menos, três vezes maior que o nosso. Porém, os serviços, sinceramente, são incomparavelmente melhores. Isso sem falar na capacitação laboral, um imenso desafio a todos nós brasileiros: frequentei bares e restaurantes para 60 ou 80 comensais com apenas um garçom circulando entre as mesas, alguém atendendo no bar e um gerente ou supervisor. E a coisa funcionava. Bastou chegar ao Brasil, numa dessas cafeterias de aeroporto, para deparar com cinco funcionários espremidos em cinco metros quadrados, aos quais pedi uma água, um expresso e um pão de queijo. Três coisas. Os cinco conseguiram errar quatro vezes. Antes que algum patriota venha com aquele famoso “ah, mas é na Europa!”, registro que a cidade foi, ao longo de séculos, invadida, saqueada e destruída dezenas de vezes, inclusive por fenômenos naturais como incêndios e terremotos. Conversando com um taxista entendi um pouco da paixão do cidadão dali pela sua cidade. Num espanhol dito meio que de má-vontade, diante de minha ignorância da língua basca, ele resumiu: “Nossa maior riqueza é nosso povo e sua força, mesmo com os políticos sempre querendo atrapalhar”. Lá, pelo visto, prevalece o que é importante para a sociedade, não aquilo que cai do telhado na cabeça de meia dúzia de administradores despreparados ao longo das décadas. Fiquei com vontade de sugerir a inclusão, no hino de San Sebastián, de uma estrofe que só existe no nosso, de Vitória e de Pedro Caetano, e que nós repetimos de maneira automática nas rarísimas oportunidades em que temos a oportunidade de cantá-lo: “Milhões te adoram e sem favor algum entre os milhões eis aqui mais um”.

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