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Só sem dor

Claro que, quando você aparece no topo de uma pesquisa, mesmo que de avaliação política, sua vaidade, bem própria do ser humano, fala mais alto. Já havia acontecido quando cheguei a ser considerado candidato a prefeito de são Paulo. Terra que amo tanto.

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Nasci em Ribeirão Preto, que amo como o “rio da minha aldeia”, que passa por lá, mas são Paulo escreveu a maior parte da minha vida. Minha história passa por caminhos que percorri nesta cidade, em momentos inundados de paixão. E paixão mistura sorrisos e lágrimas, envolvendo vida de verdade.

Vida pública é outra coisa. Depende de uma pergunta capital e separa exatamente a vaidade pessoal de uma causa maior, voltada para o bem comum. E a pergunta aqui é:  como fazer o bem para um povo que vem sendo feito de idiota da maneira mais desumana, numa democracia que está longe de ser plena –a começar pelo voto obrigatório, uma contradição em termos.

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Pensando em tudo isso, e sem muita enrolação, vou decidir o que faço, consultando minha consciência, minha família e poucos amigos que tenho. Se achar que posso fazer algo de verdade, sempre acreditando que o Brasil tem jeito, não fugirei a essa responsabilidade. Mas não posso dar um passo impensado ou movido apenas pela vaidade. Mesmo porque minha vida profissional – na tribuna da Band – já é inteiramente dedicada ao interesse público.

Não preciso ser candidato para ficar na mídia. Já estou nela o dia todo e há tanto tempo. Na verdade, hoje em dia prefiro me esconder a aparecer. Não frequento festas, fujo de acontecimentos sociais. Minha vida pessoal se resume a minha mulher, filhos e netos, que vejo menos do que deveria e gostaria.

Tenho vontade de ajudar o país e sinto que, até hoje, só falando, não me realizei nisso. Como dizia minha avó, falar é fácil. E mesmo vendo diariamente os efeitos na sociedade do que falo, ainda é pouco diante do objetivo de atacar corruptos e corruptores, ladrões de dinheiro público e de sonhos de uma população sofrida no desemprego de mais de 13 milhões, na miséria absoluta de mais de 16 milhões e nos sonhos desfeitos da maioria desiludida, sem rumo social nem político.

Acima de tudo, resta saber se Deus me deu competência e condição de representar essa gente tão sofrida, que não pode, não deve e não merece sofrer mais decepções.

Aos 60 anos, confirmo a cada dia que o homem é só no momento de grandes decisões, mesmo no meio de uma multidão. E nesta hora crucial não pode haver espaço na alma para covardia e fraquezas.

Já ouviu a expressão “não queria estar na pele de alguém”? Pois é: eu não queria estar na minha. Já evitei o páreo político uma vez, motivado por algumas razões e dúvidas, que considero legítimas, como o perigo de ser engolido pelo sistema ou o de me aproximar de gente que desprezo. Ou mesmo por medo de derrota ou por me sentir incapaz de atender a expectativa de quem confia em mim.

De novo voltam as velhas sombras da política. Mergulho em profunda reflexão. Hoje não sou candidato. Só serei se tiver a certeza de que a minha vontade real e a minha capacidade –acima de vaidades e outras fragilidades– estarão à altura de falar e trabalhar pelo povo com a dedicação e a eficiência necessárias. E principalmente longe, muito longe dos miasmas do lodaçal da nossa política.

Senador? Só se for sem dor. Aquela que machucaria a minha alma se eu decepcionasse meu povo.

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