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Centro da capital entre 1970 e1980

Se pensar o mapa de Porto Alegre como um objeto, pense em um leque. Pois o Centro Histórico que conheci na saída da infância para a juventude representava o eixo deste leque: para onde tudo convergia, de onde tudo irradiava. E o eixo do eixo era, quem sabe, a “esquina democrática”, o encontro da av. Borges de Medeiros com a Rua dos Andradas (Rua da Praia). Estávamos no período de exceção e ali pulsava a cidadania mais plural. Este momento era anterior aos shoppings, também não existiam as linhas transversais de ônibus e recém começavam a brotar os prédios administrativos sobre os aterros na direção do sul. Uma das avenidas residenciais mais valorizadas era a Duque de Caxias, princípio do raio que seguia pela av. Independência na direção dos Moinhos de Vento.

Tentei buscar na memória um fato que pudesse inaugurar minhas idas ao Centro sem a tutela de adultos. Encontrei dois e, ambos, referem-se ao ano de 1976, meus 12: a compra do LP Claridade, de Clara Nunes, e minha entrada num clube de colecionadores do colégio (AFA – Associação Filatélica Anchietana). O samba e os selos compunham duas paixões daquele momento, fazendo com que frequentasse a Galeria Chaves (os discos, comprava na Casa Coelho e King’s) e Galeria do Rosário, o mais eclético conjunto de salas comerciais de todos. Como num filme, enxergo-me voltando sozinho para casa com as sacolas. Também ali perto frequentava a Livraria do Globo, a recém-nascida Gang e lanchava nas lojas Renner. Naquele tempo surgia uma certeza: andar na Rua da Praia sem encontrar algum conhecido era impossível.

Havia, claro, comércio de bairro. Eu mesmo nascera ao lado da av. Presidente Roosevelt (av. Eduardo) no seu apogeu, e quem morasse nos arredores da Azenha quase podia prescindir do Centro. Mas a concentração de produtos e serviços tornava o porto-alegrense refém das proximidades do Guaíba. Ali estavam os cursos de línguas, ali nasceram os pré-vestibulares, ali ombreavam os magazines e as boutiques da moda. Portanto, jovens de toda a cidade marcavam encontros no Centro, uma vez que conheciam e se reconheciam nas ruas e praças do entorno. Sei que fizemos parte das últimas gerações a ter intimidade com o coração de Porto Alegre. Mas isso fica para a semana que vem, anos 2000…

P.S.: Nesta terça-feira (7), 18h, na Tenda de Pasárgada, teremos o Sarau “Santa Sede” e “Há de ti, Rubem Braga!” na Feira do Livro. Logo a seguir, nossa sessão de autógrafos. Todos convidados!

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