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O cansaço

Lá pela metade da década de 1960, Brigitte Bardot sacudiu o país ao desembarcar por aqui no verão. Era a primeira de várias temporadas da bela e sensualíssima atriz francesa. Como não poderia deixar de ser, logo após colocar seus pés nas areias de Búzios, BB passou a ser convidada para várias festas tanto ali quanto no Rio. E era, óbvio, o centro das atenções. No verão seguinte, eventos e convites se repetiram, mas ela já não era mais tão festejada quanto antes. Já na terceira temporada era possível ouvir pelos cantos dos salões do Rio: “Ihhh! Lá vem aquela chata da Brigitte Bardot. Arroz de festa: não sai mais daqui…” La Bardot havia deixado de ser novidade, sua presença já não causava espanto. Mais ou menos como anda ocorrendo com a Lava Jato e com os fatos políticos do país. Fosse em outras épocas, a prisão de um ex-líder de Governo, como ocorreu sexta-feira com Cândido Vacarezza, causaria um certo alvoroço. Mas ela foi tratada como algo rotineiro.

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Delações já não causam surpresa alguma. Mesmo porque é difícil superar o escandaloso fato de um presidente da República receber um empresário cheio de suspeitas na calada da noite, num palácio de governo, com uma mala de R$ 500 mil surgindo no meio dessa história e a Câmara dos Deputados simplesmente impedir a investigação dos fatos. É bom ressaltar: a Câmara não se pronunciou sobre a inocência do presidente. Ela simplesmente impediu a investigação, como se nada houvesse para ser apurado.

Essa decisão dos deputados, somada ao triste episódio do julgamento da chapa Dilma-Temer no TSE, ajudou a concluir um cenário de apatia, de desânimo da população em relação à política, aos políticos, ao futuro do país. E essa apatia, essa desmobilização, afeta todos os campos ideológicos. Logo após a votação da Câmara, militantes petistas correram para as redes sociais para ironizar o silêncio das panelas, tão ativas na época do governo Dilma. Mas, para ficar no terreno das ironias, os simpatizantes da ex-presidente se esqueceram do seu próprio silêncio, afinal não se tem notícia de algum tipo de protesto efetivo por parte deles contra o atual estado das coisas.

Se a apatia em relação ao cenário político é explicável e até de certa forma aceitável, o cansaço em relação à Lava Jato é perigoso. São evidentes os sinais de união de forças dos três poderes em busca do fracasso da operação. A atuação de Gilmar Mendes na última semana é, mais uma vez, uma prova disso. Se os procuradores e juízes envolvidos nas investigações não tiverem o apoio necessário, o país estará diante do risco de ver repetidas certas festas, onde a maior atração não é uma bela atriz francesa, no auge da sua fama, mas os bons e velhos ratos da corrupção, responsáveis pela corrosão moral, política e econômica da Nação.

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