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As urnas da desconfiança

diego-casagrande-colunistaMais de 140 milhões de cidadãos estarão aptos a votar no dia 5 de outubro. Sem dúvida, de leste a oeste do país haverá, mais uma vez, muita esperança de que a partir das escolhas do povo a nação progrida, avance e a vida de todos melhore. No entanto, milhões de brasileiros também carregarão no dia do sufrágio algo desconcertante: a dúvida de que as eleições sejam realmente limpas. E o pior de tudo é que estes cidadãos, que vêm expressando essa angústia nas redes sociais, têm ótimos motivos para desconfiar. A urna eletrônica brasileira é frágil e fraudável. E uma eventual fraude pode ser executada mais facilmente do que muitos imaginam. Não é por acaso que países mais avançados se negam a adotar a nossa tecnologia, que ainda por cima, não permite checagem.

O professor de TI Diego Aranha, um jovem doutor e especialista da Unicamp, tem exposto sua preocupação com a “possibilidade de fraude por agentes internos” que lidam com as urnas eletrônicas. Em 2012, ele fez parte do grupo que participou dos testes de segurança promovidos pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) quando foram detectadas “várias condições técnicas que permitiriam a manipulação”. Embora os exames tenham sido restritivos, segundo o especialista, foi possível encontrar caminhos para uma eventual fraude. Ele cita dois exemplos: na gravação dos cartões que instalam o software nas urnas eletrônicas ou ainda na transmissão dos programas do TSE para os TREs. E curiosamente, em 2014 não foram feitos testes de segurança, conforme era esperado. É assustador. Dá calafrios. Diante disso, estaríamos nós eleitores brincando de democracia?

“O problema não é a tecnologia em si, mas a forma como foi implementada no Brasil”, explica Aranha. “Nossa urna é um registro puramente eletrônico do voto. Basicamente, qualquer pessoa com acesso ao software de votação dos programas executados, se o acesso permitir que o programa não se comporte mais de maneira honesta, pode fazer que os resultados sejam desviados de maneira arbitrária”, alerta.

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Incrivelmente, estas brechas não são novas e existem desde que as urnas eletrônicas surgiram. No Brasil, já há denúncias de eleitores que votaram em candidatos que jamais apareceram nos boletins de urna. A saída é mudar a lei para exigir que em eleições futuras, a urna emita um comprovante impresso a cada voto e o eleitor possa conferir. Mas só no futuro. Nesta eleição, Inês é morta.

Diego Casagrande é jornalista profissional diplomado desde 1993. Apresenta os programas BandNews Porto Alegre 1a Edição, às 9h, e Ciranda da Cidade, na Band AM 640, às 14h. Escreve no Metro Jornal de Porto Alegre

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