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Compra parcelada: Juros embutidos compensam?

marcos-silvestreHistorieta. Quando minha mãe tinha um ano de idade (era a caçula, oitava filha da família), num belo dia bate à porta da casa da minha avó um cobrador: “D. Felipa, vamos levar a máquina de costura, seu marido acaba de perder no jogo.” Detalhe: sem qualquer suporte do marido alcoólatra, minha avó sustentava os oito filhos como costureira. Mas… dívida de jogo é assim, lá se foi a máquina! Fosse hoje, vovó correria ao magazine da esquina e compraria outra. Esse, no entanto, não foi o desfecho à época.

 

Não tem, não compra! Minha pobre avó infelizmente não tinha os dois mil e quinhentos dinheiros da época que lhe permitiriam arrematar a cobiçada máquina e tocar a vida. Muito longe disso. Por outro lado, o dono da loja não poderia lhe vender fiado um bem de valor tão elevado. Fiado no arroz-e-feijão tudo bem, mas não numa máquina! Então vovó trabalhou por um ano também no “terceiro turno”, com a máquina emprestada de uma amiga, para turbinar a renda e acumular o valor necessário. Conseguiu.

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Quando vale X quando não. Em um caso de necessidade extrema como esse, pagar 10 “parcelinhas” de 300 dinheiros teria provavelmente sido a melhor saída, se disponível. Isso, mesmo considerando que tal parcelamento redundaria num total de 3.000 dinheiros, ao invés dos 2.500 dinheiros à vista. Portanto, 500 dinheiros ou 20% a mais, um extra que podemos qualificar como “juros embutidos” no parcelamento em 10 vezes “sem juros”. Agora pergunto: no caso de uma nova TV de LED, compensaria?

 

Não vale! Dificilmente quem vai comprar uma nova TV de LED está hoje sem TV. Pode até ter uma de tubo, antiga, mas sem futebol e novela o comprador certamente não está, hoje em dia. O cartaz da loja diz 10 parcelas de R$ 300,00 “sem juros”, Ok. Mas sabemos que à vista sairia por R$ 2.500,00, então, na realidade, há R$ 500,00 de juros embutidos! A pressa em ter o bem fará o sujeito perder, digamos, um aparelho de DVD inteirinho. Com essa verba também daria para alugar 50 títulos de filmes em HD.

 

Iluda-se, se quiser. Um sujeito em sã consciência (ainda mais um comerciante!) não parcelaria um valor que ele pudesse tranquilamente receber do comprador à vista. Então, se parcela, é porque sabe que o comprador não tem para pagar à vista. E daí o consumidor pede para ser enganado: é só camuflar nas parcelas os inevitáveis juros (que o comerciante terá de entregar ao banco!) e… venda fechada!

Economista com MBA em Finanças (USP), orientador de famílias e educador em empresas, é colunista da BANDNEWS FM e fundador da SOBREDinheiro. Diretor do site www.oplanodavirada.com.br, da EKNOWMIX Consultores Integrados e da TECHIS SA.

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