Imagine que um dia você acorda, liga o rádio ou a TV e fica sabendo que caiu um avião em seu país e que morreram 140 pessoas. E no dia seguinte você fica sabendo que caiu outro avião igual ao ler o jornal cedo. E no outro dia chega ao trabalho e um colega lhe conta que aconteceu de novo. E assim sucessivamente, todos os dias. Seria chocante. Parece impossível conviver com um noticiário assim, não?
Pois convivemos todos os dias no Brasil com 140 assassinatos. A diferença é que estas pessoas estão dispersas e são colhidas pelo crime. Muitas vítimas fazem parte do próprio crime, como na guerra do tráfico, por exemplo. E muitas são cidadãos inocentes, incapazes de se defender e sem ninguém a protegê-los. Não estão dentro de um avião e, naturalmente, esta tragédia nacional não têm o mesmo impacto midiático.
Há momentos, juro, que penso estar vivendo um pesadelo em nosso país. Tal qual o sobrevivente em um mundo pós-apocalíptico, olho para os lados e não vejo a quem recorrer. A sensação é de que não há leis, não há polícia, não há justiça, não há nada. Tudo é muito desaparelhado, burocrático, desorganizado, impune. Tudo parece muito sujo. Dos homens que fazem as nossas leis aos encarregados de executá-las e protegê-las.
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A sensação é de que estamos todos no cada um por si e, quem sabe, Deus por alguns. Nossa violência cotidiana mata mais do que guerras sangrentas como na Líbia e na Síria. E o país parece que não quer sair deste atoleiro.
Recentemente, uma criança foi queimada viva dentro de um ônibus por delinquentes e não vi ninguém do governo, dos sindicatos, do Senado, criticar a ação dos bandidos e exigir que fossem punidos. Nada. Nem um piu.
Agora, ao ver um delinquente com histórico de assaltos à mão armada ser acorrentado em um poste por membros de uma comunidade cansada, uma jornalista disse que o fato era “compreensível” – não aceitável – e a patrulha politicamente correta entrou em campo. Membros de uma esquerda virulenta e organizada, alojada em sindicatos e ONGs, apressaram-se em lançar notas de repúdio aqui e ali e até exigir a cassação da palavra da profissional, como se opinar não fosse um direito constitucional de qualquer cidadão.
O país está torto. Enquanto isso, hoje 140 pessoas serão assassinadas no Brasil. Quando vamos acordar deste pesadelo?
Diego Casagrande é jornalista profissional diplomado desde 1993. Apresenta os programas BandNews Porto Alegre 1a Edição, às 9h, e Ciranda da Cidade, na Band AM 640, às 14h. Escreve no Metro Jornal de Porto Alegre