Colunistas

Quem ama não mata

diego-casagrandeAcabo de ler o caso do marido – mais um – que no sábado em Santa Maria, puxou o gatilho três vezes e tirou a vida da mãe de seus filhos. Na porta de casa. Ela tinha 33 anos. Era bancária. O casal tem dois filhos lindos: uma menina de 13 e um garoto de sete. Entrei no Facebook pessoal da vítima e vi as fotos de todos. Uma lástima. O sorriso das crianças, tão felizes em uma daquelas fotos de família produzidas em estúdio, agora desaparecerá. São inocentes que pagarão o preço pela irracionalidade de um adulto. E não qualquer adulto, mas o próprio pai, envolto em um momento de posse doentia, raiva, rancor, ciúmes e descontrole. Por consequência, como poderão estes filhos olhar para o pai novamente?  Preso pela polícia, o homem repetiu aquilo que a maioria dos assassinos de esposas, namoradas e companheiras repetem quando detidos: “Fiz bobagem, matei minha mulher”.

Episódios cruéis e tristes, dilacerantes como este, acontecem todos os dias em nosso país. Com a comunicação ao alcance de todos, esta realidade brutal invade nossos lares, nossas mentes e nos faz temerosos pelos rumos das relações humanas, pessoais e afetivas. Conseguiremos com a razão e o conhecimento conter o monstro que pode habitar, adormecido, dentro de nós?

Eu tinha 10 anos quando, em 1982, a televisão brasileira exibiu a série “Quem ama não mata”, com Cláudio Marzo e Marília Pêra, e texto de Euclydes Marinho. Lembro que em pouco tempo se tornou assunto nas rodas familiares. Foi marcante para a época a tevê mostrar as entranhas de um relacionamento onde a insegurança, o ciúme e a violência masculina predominaram até o trágico desfecho em que a mulher é assassinada pelo companheiro. Em apenas trinta anos o desfecho trágico da arte está transposto na realidade. É só ficar conectado a algum meio de informação que encontramos isso em muitas famílias brasileiras.

Recomendados

Quem ama verdadeiramente acolhe, destina ao outro afeto, proteção, carinho. E, nos momentos de dor pela perda afetiva, quando o amor do outro acaba e vai embora, a violência não é remédio. Há que se lamber as feridas. A vida é bela e segue. Há outros amores por aí. A fórmula para a superação de um desenlace afetivo está dentro de nós, com resignação é compaixão. Buscar isso é se tornar mais humano. Quem ama não mata.

Diego Casagrande é jornalista profissional diplomado desde 1993. Apresenta os programas BandNews Porto Alegre 1ª Edição, às 9h, e Ciranda da Cidade, na Band AM 640, às 14h.

Tags

Últimas Notícias


Nós recomendamos