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Daniela Vega, a atriz trans que colocou Hollywood a seus pés

Também cantora lírica, ela protagoniza o chileno ‘Uma Mulher Fantástica’, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro; artista foi a primeira trans a apresentar uma das categorias da premiação cinematográfica.

Vencedor na categoria Melhor Filme Estrangeiro do Oscar 2018, o chileno "Uma Mulher Fantástica" entrou para a história da premiação cinematográfica de Hollywood como a primeira produção protagonizada por uma transexual a ganhar a estatueta.

O longa do diretor Sebastián Lelio tem a cantora e atriz Daniela Vega como protagonista. Ela também entrou para a história do Oscar como a primeira trans a figurar entre o time de apresentadores de categorias ou indicados ao prêmio. Foi ela quem chamou ao palco o cantor Sufjan Stevens, que concorria ao prêmio de Melhor Canção com Mistery of Love, do longa Me Chame pelo Seu Nome.

Se Vega tivesse sido indicada na categoria atriz, também seria a primeira trans a romper essa barreira.

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A atriz de 28 anos, nascida em Santiago, diz não se incomodar com as notícias que destacam o fato de ela ser transgênero. "Não me chateia e eu entendo" disse ela à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC. "Veja, fui a única menina trans no colégio, a única trans no meu bairro, a única trans no meu prédio, a primeira menina trans para muitos namorados… Não é algo que me assombre tanto."

Segundo a atriz, agora há muito mais pessoas transgênero. "A pergunta é onde estão e o que estão fazendo. E essa não é uma tarefa minha, porque estou aqui, visível. A tarefa é para os demais, de abrirem essa possibilidade de se conectar."

Trajetória

Daniela Vega começou sua carreira no teatro – atuou em peças como Migrantes e A Mulher Borboleta.

Em 2014, ela apareceu no clipe da música Maria, do cantor chileno Manuel García. No mesmo ano, fez sua estreia no cinema com A Visita, do diretor Mauricio López Fernández.

Mas o salto internacional em sua carreira aconteceu com Uma Mulher Fantástica, no qual interpreta Marina, uma transexual.

O diretor Lelio procurou Vega para que ela lhe ajudasse como uma consultora. "Ele pediu que eu contasse como via o mundo, o que eu fazia aos finais de semana, que livros eu lia. Depois de um tempão, ele me disse: ‘Vai chegar uma coisa na sua casa. Leia e depois me diz o que lhe parece’. Era um roteiro", conta.

Depois de a atriz ler o material, Lelio a convidou para ser a protagonista. E ela topou sem pensar muito.

A música também faz parte da vida de Daniela Vega. Inspirada pela avó, ela é cantora lírica. Diz que transpira arte por todos os poros.

A arte, conta, salvou sua vida diversas vezes. "Finalmente há mecanismos como a arte, que talvez podem não ser uma bússola, mas são um bálsamo ou uma chave para novas conquistas e para novos começos."

A atriz conta que continua sofrendo agressões verbais, mesmo com todo o sucesso do filme. "Olha, já passei 14 anos no meu corpo feminino. Vivi coisas como as que muitas mulheres vivem no resto do mundo, e te digo: cão que ladra não morde"

Segundo ela, "os que fazem golpe de Estado, os que executam, os que geram terror, se guardam".

"No fim, o ouvido escuta todos os sons. Entre eles, há notas belas que uma pessoa podem agrupar e formar uma melodia. Mas o resto são apenas sons."

Daniela e Marina

No longa, Marina é uma mulher que trans que vê seu companheiro, que deixou a família tradicional para ficar com ela, morrer. Ela é transformada em suspeita pela morte, e sua vida vira um inferno. É proibida até de ir ao funeral. Mesmo assim, tenta enfrentar tudo com dignidade, sem perder a linha.

"Marina é uma personagem muito resistente, digna, resiliente e muito humana", diz. "É como tudo na vida, uma pessoa não sabe como vai reagir até que as coisas aconteçam com ela. Marina tem essa reação (mais diplomática) porque ela também está perdida nela mesma, buscando seu próprio lugar, que lhe foi tirado", explica.

Em alguns momentos fica difícil distinguir a personagem da atriz, tendo em conta a própria história de resiliência de Vega.

Ela conta que sofria bullying na escola por ser um menino "muito feminino". Quando tinha 15 anos, seus pais perguntaram se ela estava bem e se era homossexual. Daniela lhes disse: "Me sinto uma menina".

Seus pais foram para a praia para pensar por uns dias. Quando voltaram, deram à filha uma caixa de maquiagem, um gesto que a emociona até hoje.

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