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Alckmin se consolida como nome do PSDB ao Planalto, mas disputas internas podem dificultar alianças para 2018

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, vem se consolidando nos últimos dias como o principal nome do PSDB para disputar a Presidência da República em 2018, mas a guerra interna pelo controle da legenda pode dificultar a costura do candidato ou até mesmo implodir a formação de uma ampla aliança de partidos em torno dele para 2018, admitiram à Reuters lideranças e dirigentes partidários das diversas alas da legenda.

O revés do senador Aécio Neves (MG), que se licenciou do comando do partido desde maio quando foi implicado no escândalo decorrente da delação de executivos da J&F, e o recente recuo do prefeito paulistano e pupilo de Alckmin, João Doria, de almejar um plano presidencial pelo PSDB abriram caminho para a “candidatura natural” de Geraldo Alckmin ao Palácio do Planalto, admitem os tucanos.

Parte das lideranças tucanas tenta consolidar Alckmin como candidato único a ser apontado na convenção do partido, no início de dezembro –um plano compartilhado pelo governador de São Paulo, segundo disse à Reuters um interlocutor direto dele.

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O prefeito de São Paulo, João Doria, que seria seu principal adversário, tem dado sinais de que pode ter sido convencido a desistir de disputar a indicação com seu padrinho político. No entanto, o prefeito de Manaus e ex-senador, Arthur Virgílio Neto, já anunciou sua pré-candidatura e, por enquanto, não parece estar disposto a desistir em nome da unidade do partido.

O PSDB ainda tenta recuperar alguma união interna, depois da crise iniciada com as denúncias contra o senador Aécio Neves (MG) e agravada pelas posições antagônicas entre parlamentares mais novos, que queriam abandonar o governo Temer, e a ala mais antiga do partido, que preferia ficar.

A persistente crise na legenda não foi superada mesmo depois da rejeição das duas denúncias contra o presidente e pode ter reflexos não apenas na tentativa de apontar Alckmin unanimemente como candidato à Presidência, mas na composição de uma chapa eleitoral no próximo ano.

“Tem um movimento claramente percebido que a candidatura do Geraldo está se consolidando, é irreversível”, afirmou José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço de estudos do PSDB e um dos mais próximos a Temer no partido.

Restaria às lideranças tucanas convencer o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, a desistir também das prévias. Apesar de seu nome nem ser considerado nas diversas alas do partido, convencê-lo a desistir nesse momento não parece ser tarefa fácil.

Em conversa com a Reuters, o prefeito ressalta que é o único que já apresentou um plano de trabalho e não pretende desistir da ideia de prévias amplas, envolvendo todos os filiados tucanos.

“Vão fazer o quê? Me dar uma chave de braço, me pôr para dormir? Ninguém vai ser ungido”, disse. “O PSDB hoje precisa de um renascimento. Devemos muitas explicações à sociedade. O partido não está bem, o que o povo acha do PSDB hoje não é uma coisa boa. Precisamos de prévias amplas para motivar a sociedade.”

Virgílio apresentou uma proposta de prévias a serem realizadas em março de 2018, com votos de todos os filiados ao partido –cerca de 1,5 milhão– e pelo menos 10 debates a serem feitos pelos candidatos em cidades-chave no país. Segundo o prefeito, o deputado Carlos Sampaio (SP), vice-presidente jurídico do partido, estaria preparando uma proposta com base nas suas ideias. Procurado, Sampaio não respondeu mensagens e telefonemas.

Líder do PSDB na Câmara, Ricardo Trípoli (SP) acredita que o partido vai conseguir convencer o prefeito de Manaus a deixar de lado sua pré-candidatura. Trípoli, que liderou a dissidência do PSDB na votação das denúncias contra o presidente Michel Temer, avalia que uma única candidatura, sem mais crises internas, é essencial para reunificar o partido.

“Tudo se encaminha para que Alckmin seja apontado como candidato. Ele é quem consegue agregar mais forças dentro do PSDB. Até pode ter outro, mas nenhum agrega como ele”, disse o deputado.

O governador paulista, que já foi candidato à Presidência em 2006, quando perdeu no segundo turno para Luiz Inácio Lula da Silva, aparece com 8 por cento das intenções de voto na pesquisa Datafolha realizada no final de setembro, no cenário que tem o petista como candidato. Doria tem os mesmos 8 por cento quando é o nome do PSDB na disputa.

Comando do partido

No entanto, ainda antes de formalizar a candidatura do governador de São Paulo à Presidência, o PSDB precisa decidir sobre sua sucessão interna.

A expectativa é que o presidente interino da legenda, o senador Tasso Jereissati (MG), decida até o fim desta semana se vai disputar a eleição para o comando do partido. Tasso é da ala mais crítica ao governo Temer, tendo defendido o rompimento desde a eclosão da crise da JBS. Outro nome que vai concorrer é o do governador de Goiás, Marconi Perillo, incentivado por aliados de Aécio Neves.

Tasso e Perillo reuniram-se nesta quarta-feira, ocasião em que o governador goiano informou ao presidente interino que vai se candidatar ao comando da legenda. Em entrevista após o encontro, os dois falaram que vão trabalhar pela unidade da legenda. Tasso admitiu que tem identidade política “muito forte” com ideias que geram atualmente “diferenças” dentro do partido.

Perillo, por sua vez, afirmou que o PSDB “tem tudo” para ganhar a eleição presidencial e defendeu um “natural” desembarque do governo Temer no fim deste ano sob a alegação de que o partido já deu sua cota de contribuição e continuará a apoiar a agenda de reformas, mas precisa se dedicar à disputa de 2018.

Presidente do PSDB mineiro e ligado a Aécio, o deputado federal Domingos Sávio afirmou que o partido precisa ter habilidade para que as disputas internas não prejudiquem a candidatura de Alckmin ou “quem quer que seja” o candidato do partido, não descartando outra opção para o Planalto.

Tensão

Um sinal de que o clima anda está tenso foi a reunião desta quarta-feira de Tasso com a bancada do partido na Câmara. Na ocasião, Sávio disse ter questionado o fato de o presidente interino ter contratado para fazer o marketing do partido uma empresa de Minas que, na campanha de 2014, trabalhou para os petistas no Estado, atacando na ocasião campanhas de Aécio, do hoje senador Antonio Anastasia e outros tucanos.

Segundo Sávio, Tasso disse que não sabia disso e procurou avaliar a situação. “Tasso é um grande líder, mas suas atitudes em nada contribuem para a unidade do PSDB”, disse o deputado.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) afirmou que a escolha para o comando do partido está em aberto e o sinal de apoio que o governador de São Paulo der será decisivo para o vencedor. “Vai depender para onde Alckmin for”, disse.

Geraldo Alckmin, entretanto, não tem dado indicações claras de qual candidato vai apoiar. Na eclosão da crise envolvendo Aécio, ele se aliou a Tasso e chegou a defender o rompimento do partido com o governo Temer.

Numa disputa de bastidor, segundo fontes, atuou para que o PSDB fechasse questão contra o presidente na primeira denúncia. O líder da bancada, Ricardo Trípoli, é aliado dele. A votação, contudo, dividiu o partido, com leve voto pró-Temer a partir da atuação de Aécio Neves.

Na tramitação da segunda denúncia, o governador afirmou que o “melhor” para o país era que o presidente permanecesse no cargo. Trípoli liberou a bancada para votar como quisesse. Desta vez, a maioria apertada foi contra Temer.

Mas, segundo interlocutores, Alckimn cultiva uma boa relação com Marconi, a quem chegou buscar apoio antes do escândalo envolvendo Aécio para ele próprio tentar comandar o PSDB e se viabilizar candidato a presidente pelo partido.

Um dirigente tucano, sob a condição do anonimato, afirmou que o movimento de Alckmin visa a diminuir resistências ao nome dele e angariar apoio para sua candidatura. Esse tucano, contudo, avalia que o nome de Marconi Perillo no momento poderia somar mais apoios a Alckmin em 2018, principalmente do PMDB, o maior partido do país.

Para esse dirigente, Tasso tenta a todo momento “esticar a corda” e provocar “fissuras” na relação com o governo Temer.

“A candidatura do Tasso é claramente anti-PMDB”, criticou o dirigente, alertando para o fato de que os tucanos correm o risco de não contarem com o apoio dos peemedebistas em 2018, em caso de eleição de Tasso. O presidente interino do PSDB não atendeu aos pedidos da Reuters para falar sobre a sucessão na legenda.

No Palácio do Planalto, os movimentos tucanos são acompanhados com atenção, mas sem envolvimento. Temer já decidiu que uma reforma ministerial deverá vir apenas em março –próximo do período de desincompatibilização para candidatos em 2018– e deverá desalojar os ministros tucanos dada a inconstância do apoio do PSDB na votação das denúncias.

Ainda assim, o PMDB, em busca de espaço em um futuro governo, não descarta apoiar Alckmin ou qualquer outro tucano candidato à Presidência, a depender de negociações futuras.

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