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Ministro quer punição a general que sugeriu golpe militar

Criou enorme mal-estar tanto entre militares quanto entre os civis do governo a declaração de um membro da cúpula do Exército, o general Antonio Hamilton Mourão, em palestra na última semana, de que uma “intervenção militar” poderá ser adotada pelas Forças Armadas se a Justiça “não solucionar o problema político”. O general disse ainda que a ideia conta com o apoio de seus “companheiros do Alto Comando do Exército”. Após três dias de silêncio, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, divulgou nota ontem, informando que “convocou o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, para esclarecer os fatos relativos a pronunciamento de oficial general da Força e quanto às medidas cabíveis a serem tomadas”.

Econômica, a nota não especificou se o comandante respondeu ou se essas medidas já foram definidas ou tomadas. Procurado, o Exército prometeu um posicionamento oficial, mas não o divulgou até o fechamento desta página, às 22h de ontem.

O general Antonio Hamilton Mourão falou em uma palestra promovida por uma loja maçônica de Brasília na última sexta. A palestra de mais de duas horas foi postada na internet. No vídeo, o general está com seu uniforme do Exército.

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Não é a primeira vez que o general Mourão dá declarações polêmicas. Em outubro de 2015, quando era chefe do Comando Militar do Sul, um dos cargos mais importantes no Exército, o militar fez críticas diretas ao governo da então presidente Dilma Rousseff (PT) e um quartel sob seu comando abrigou uma homenagem ao coronel Brilhante Ustra, reconhecido pela Justiça como torturador durante a ditadura militar. Mourão foi exonerado do posto pelo comandante da força, o general Eduardo Villas Bôas.

Ele foi, então, transferido para um cargo sem comando sobre tropas e mais burocrático, mas ainda de direção, a Secretaria de Economia e Finanças.

Cobrança por punição

Para o cientista político João Roberto Martins Filho, especialista em forças armadas e professor da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), o general Mourão quebrou a hierarquia do Exército e a ausência de uma punição efetiva pode ser um “sinal perigoso”. “Um general da ativa não pode fazer manifestação política prevendo a quebra da ordem constitucional”, afirmou ele, que é ex-presidente da Associação Brasileira de Estudos de Defesa.

“Ele não é um ‘qualquer’, é o chefe de uma secretaria importante e disse que a opinião não era só sua, mas de companheiros do Alto Comando do Exército. É grave”, avalia. “Resta saber se o que foi dito foi apenas uma bravata de um general transloucado ou se tem algo de verdade, o que acho difícil.”

Ainda segundo o especialista, uma punição mais efetiva ao general Mourão é politicamente difícil. “O governo normalmente já evita conflitos com as Forças Armadas. Num contexto em que a administração está fraca, em crise, é grande a chance de tentarem deixar isso para lá ou dar uma pseudopunição ao general”, avalia. O “problema” duraria até março do ano que vem, quando Mourão completará a idade de aposentadoria compulsória.

Sem novo golpe

Para o professor da UFSCar, o plano de intervenção militar do general Mourão está longe da realidade. “Por mais que o cenário político esteja debilitado, não há espaço para um novo golpe militar no Brasil. Não temos as circunstâncias de 1964”, avalia ele, que enumera: “Em 1964, havia o apoio da imprensa e de muitos políticos ao golpe. Desta vez, os grandes jornais todos criticaram fortemente o general. Também não há o contexto da Guerra Fria, o apoio dos Estados Unidos ao golpe… Não há espaço. E ao menos o comandante Villas Bôas é com certeza contra. Não podemos descuidar, claro, mas não vejo o risco no momento”, conclui.

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