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Em depoimento a Moro, Lula nega acordo ilícito e diz que Palocci mentiu

Reuters

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prestou seu segundo depoimento ao juiz federal Sérgio Moro nesta quarta-feira (13) em Curitiba, capital do Paraná. Durante pouco mais de duas horas, o petista deu esclarecimentos sobre o processo em que é acusado de receber vantagens indevidas da empreiteira Odebrecht através de contratos com a Petrobras.

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No interrogatório, Lula negou que tenha firmado qualquer acordo ilícito com a empreiteira e ainda acusou o ex-ministro Antonio Palocci de ter faltado com a verdade em seu depoimento feito a Moro na semana passada. “Eu vi Palocci mentir aqui”, afirmou.

O líder petista afirmou ter «profunda amizade» com o ex-ministro, e explicou que o tirou do comando da Fazenda após denúncia, de onze anos atrás, de recebimento de R$ 40 mil em propina.

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O ex-presidente disse que o depoimento de Palocci foi «roteirizado». «Eu conheço ele bem; senão fosse um ser humano, ele seria um simulador. É tão esperto que simula uma mentira mais verdadeiramente do que a própria verdade».

Impaciente, o ex-presidente também afirmou estar cansado de mentiras e da ausência de provas; disse ainda que irá provar sua inocência. “Só espero que tenham a grandeza de pedir desculpas”, acrescentou, citando o MPF.

O primeiro a questionar o ex-presidente foi Moro. Em seguida, vieram o Ministério Público Federal e as perguntas da defesa. Após o interrogatório do ex-presidente, Moro passou a ouvir Branislav Kontic, ex-assessor do ex-ministro Palocci.


Vídeo: Lula chega ao prédio da Justiça Federal do Paraná

 

O processo

Lula é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de receber vantagens indevidas do Grupo Odebrecht para beneficiar a empreiteira em contratos com a Petrobras.

Segundo a denúncia do MPF, a Odebrecht comprou um terreno em São Paulo para a construção do Instituto Lula e uma cobertura em São Bernardo do Campo, vizinha ao apartamento onde o ex-presidente mora. De acordo com a força-tarefa da Lava Jato, o valor das vantagens indevidas recebidas pelo líder petista se aproxima dos R$ 13 milhões.

‘Ilegítimo e injusto’, diz Lula sobre processo

No início do depoimento, Lula definiu o processo no qual é acusado de «ilegítimo» e «injusto». Moro abriu interrogatório questionando sobre o apartamento comprado pela Odebrecht e registrado em nome do sobrinho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula, Glauco Costamarques Bumlai.

Lula disse que não conhece o sobrinho de Bumlai e que não participou de negócio de compra do imóvel. É um apartamento vizinho ao do presidente em São Bernardo, que era usado pela segurança presidencial. O ex-presidente disse que imóvel era do sobrinho e que ele quis ficar com o apartamento e alugado por ele.

«Hoje é um apartamento que está lá a minha disposição. Se permitirem que eu seja candidato em 2018, ele terá uma função política muito forte.»

Palocci

Na semana passada, Palocci rompeu o silêncio, fez um relato devastador e entregou o ex-presidente, a quem atribuiu envolvimento com o que chamou de «pacto de sangue» com a empreiteira Odebrecht que previa repasse de R$ 300 milhões para o governo petista e para Lula. O ex-presidente nega.

Além do ex-presidente e de Branislav Kontic, ex-assessor de Palocci, também respondem ao processo o próprio ex-ministro, o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula – que será interrogado na quarta-feira (20) -, o empreiteiro Marcelo Odebrecht e outros três investigados.

Outras ações

Lula já foi condenado na Lava Jato em julho, ocasião em que Sérgio Moro aplicou uma pena de nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro ao petista no caso tríplex.

Há ainda, sob a tutela da Lava Jato no Paraná, uma terceira ação penal. O ex-presidente é acusado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em obras do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo. Este processo poderá colocar Lula e Moro frente a frente pela terceira vez.

 

‘Eu acredito que tem pessoas que contam fantasias’, diz Lula

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou, em interrogatório ao juiz federal Sérgio Moro, nesta quarta-feira, 13, que a ex-primeira dama Marisa Letícia, falecida em fevereiro, tenha tratado sobre a construção da sede do Instituto Lula com o pecuarista José Carlos Bumlai. Confrontado com o depoimento de seu amigo, o petista rebateu afirmando que há «pessoas contando fantasias».

Lula é réu por corrupção passiva e lavagem de dinheiro sobre contratos entre a empreiteira e a Petrobras. Segundo o Ministério Público Federal os repasses ilícitos da Odebrecht chegaram a R$ 75 milhões em oito contratos com a estatal. O montante, segundo a força-tarefa da Lava Jato, inclui um terreno de R$ 12,5 milhões para Instituto Lula e cobertura vizinha à residência de Lula em São Bernardo do Campo de R$ 504 mil.

O ex-presidente negou saber que a Odebrecht teria envolvimento na compra do terreno e que o imóvel teria sido comprado em nome de Glaucos da Costamarques, primo de Bumlai.

Ele disse que o imóvel era «velho», em «uma área perto do aeroporto».

«Como decidimos não adquirir fomos procurar um prédio mais adequado onde transita o povo de SP que era ali perto da estação da Luz», contou.

O juiz federal Sérgio Moro questionou Lula sobre o depoimento de José Carlos Bumlai, que afirmou ter sido procurado pela ex-primeira-dama para tratar sobre o Instituto.

O pecuarista ainda disse, em depoimento, que fez as primeiras tratativas para a compra do imóvel, mas, depois, teria repassado o assunto a seu primo.

«Eu queria fazer uma explicação sobre esse negócio. O nome da Marisa de vez em quando é citado, não sei se com leviandade ou não. Todas as pessoas que trabalhavam comigo sabiam que era proibido de falar em qualquer coisa de Instituto Lula ou de memorial enquanto eu estivesse exercendo o cargo de presidente da República. Eu vi o Palocci mentindo aqui essa semana. Mas eu quero antecipar. Ninguém no meu governo, muito menos na minha casa, discutia coisa de Instituto porque eu dei uma ordem: ‘não quero discutir instituto Lula até 31 dezembro de 2010!'».

Lula ainda disse que, «se conversaram com a Marisa» ela não teria contado a ele. «E eu acho muito difícil de ter conversado com a Marisa e ela me contar».

Questionado mais uma vez sobre o depoimento de Bumlai, o ex-presidente rechaçou a versão do pecuarista. «Eu acredito que tem pessoas que contam fantasias».

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