Brasil

Maia se dizer leal a Temer, mas começa a agir pensando no futuro

Ueslei Marcelino/Reuters

Com um horizonte de desgastes do presidente Michel Temer a perder de vista, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) está a cada dia emitindo mais sinais de que está se preparando para o caso de assumir a presidência da República – seja temporariamente, em caso de afastamento de Temer, ou mesmo em um mandato-tampão, até o fim de 2018 – neste caso se for eleito numa eleição indireta, depois de uma eventual perda de mandato do presidente.

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Primeiro na linha sucessória, o presidente da Câmara tem adotado uma postura de dar um caráter institucional à crise e, como consequência, adotado um distanciamento – o que lhe dá a vantagem adicional de ficar mais à vontade para pensar no futuro.

Antes comuns, os encontros com Temer rarearam desde 19 de junho, data em que a denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) por corrupção passiva contra o presidente chegou à Câmara. Maia tem evitado tocar no assunto publicamente e, nos bastidores, tem evitado movimentos bruscos para não desagradar Temer, a quem tem gratidão pelo trabalho para conseguir a reeleição à presidência da Câmara – que assumiu após uma outra defenestração, a de Eduardo Cunha, cassado, hoje preso.

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O governo apenas monitora os movimentos de Maia, sempre alegando não acreditar que o deputado faça algo por deslealdade ou tentativa de derrubar Temer.

A prudência, porém, nem sempre tem gerado êxito. O Palácio do Planalto apostava em unificação das possíveis três denúncias contra Temer, num processo mais arrastado. Ao colocar a primeira denúncia em marcha na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e aceitar colocá-la em votação imediatamente, Maia foi acusado de servir ao desejo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de fazer acusações a conta-gotas, prorrogando o desgaste do governo – as denúncias de obstrução de Justiça e prevaricação devem chegar em agosto.

Os planos
Maia tenta mostrar cacife para ser alçado à cadeira mais importante da política brasileira e já faz acenos que podem favorecer sua estratégia.

No meio econômico, sinalizou que, caso assuma, manterá a equipe econômica, com  Dyogo Oliveira (Planejamento) e Henrique Meirelles (Fazenda), embora tenha uma preferência pelo economista Armínio Fraga. Ato contínuo,  mantém o compromisso de aprovar a reforma da Previdência, mesmo que fatiada e restrita à implantação da idade mínima, uma ideia que pode agradar os oposicionistas.

A capacidade de diálogo com a oposição é uma habilidade impossível para a equipe de Temer, pelas circunstâncias da chegada ao poder do presidente e de seu grupo.

A demonstração de força, porém, é a aposta de vitória numa eleição indireta, caso Temer seja afastado definitivamente – na qual apenas os 81 senadores e 513 deputados escolhem o presidente da República. Na eleição da Câmara, teve 358 votos, vindos de 13 partidos (PMDB, PSDB, PP, PR, PSD, PSB, DEM, PRB, PTN, PPS, PHS, PV e PTdoB), o que o coloca como favorito interno no Congresso.

A costura vai além, e o ex-deputado e ex-ministro Aldo Rebelo (PCdoB-SP), um dos conselheiros políticos de Maia, pode ser convencido a aceitar ser candidato a vice-presidente, o que poderia ajudar a minimizar a desconfiança da oposição.

Uma interrogação ainda impõe uma barreira nos planos de Maia: o papel do PMDB e do PSDB no eventual pós-Temer. Embora acredite que a máxima ‘ninguém governa sem o PMDB’   prevaleça, o deputado não tem claro se haverá mágoas pelo caminho. Em relação aos tucanos, a preocupação é outra: ao assumir a presidência da República, Maia não poderá concorrer a nenhum outro cargo em 2018 – deputado, senador ou governador, a menos que saia em abril, o que dificilmente ocorrerá. Restaria uma reeleição à presidência, hipótese que abriria uma concorrência não esperada pelo PSDB.

Ainda que em fase embrionária, nos arredores de Maia  surgiu a possibilidade de criar um novo partido, com base em DEM e PSB. A empreitada seria uma cartada para robustecer o projeto político e afastar a impressão de que a chegada ao topo foi apenas sorte de quem estava no lugar certo na hora certa.

 


Denúncias no Supremo incomodam
Apelidado de ‘Botafogo’ na lista da Odebrecht, Rodrigo Maia é alvo de três inquéritos em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal), que inevitavelmente seriam usados como artilharia contra o desejo de ocupar a presidência da República. A exemplo de Temer, o presidente da Câmara terá que passar muito tempo tentando se explicar e se defendendo das acusações.

Caso torne-se réu, poderá ficar proibido de assumir, conforme entendimento com votação majoritária do STF, mas com o julgamento inconcluso.

Em contrapartida, se vier a assumir o cargo, as investigações são paralisadas, porque se tratam de acusações relativas ao período anterior ao exercício do mandato.

Maia nega qualquer tipo de irregularidade e afirma esperar que as acusações sejam arquivadas.

O deputado é acusado de se beneficiar de R$ 1 milhão em troca de uma emenda para favorecer a OAS, em 2014. Nas delações da Odebrecht, aparece em dois casos: recebimento de R$ 350 mil, em 2008, e R$ 600 mil, em 2010, feito pelo departamento de propina da Odebrecht para financiar campanhas.

O terceiro inquérito acusa Maia de receber
R$ 100 mil pagos pela Brasken para garantir a aprovação de uma medida provisória, em 2013.

 

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