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‘Torneira à noite tem vento encanado’, diz Padilha ao Metro

Alexandre Padilha, do PT | André Porto/Metro
Alexandre Padilha, do PT | Fotos: André Porto/Metro

selo-eleicao-metro-eleicoes-2014-150Escolhido pelo ex-presidente Lula para acabar com a hegemonia de 20 anos do PSDB no Estado de São Paulo, o infectologista Alexandre Padilha ainda não decolou. Pesquisa Ibope divulgada nesta terça-feira coloca o petista com 7% das intenções de voto. Mas o ex-ministro das Relações Institucionais de Lula e da Saúde de Dilma ainda acredita na virada, e cita o que ocorreu nas eleições para a Prefeitura de São Paulo em 2012, quando Fernando Haddad subiu nas pesquisas pouco antes do primeiro turno. Em visita à redação do Metro Jornal, ele criticou o governador Geraldo Alckmin e prometeu ampliar as parcerias com o governo federal.

 

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Na pesquisa mais recente, Alckmin tem 47% das intenções de voto, e o sr. está em terceiro lugar, com 7%. Ainda dá para virar?
Pesquisa eleitoral é diferente do “datapovo”, que só é conhecido na urna. É só lembrar a disputa pela Prefeitura de São Paulo. Com o programa eleitoral e os debates, o eleitor irá me conhecer e terá detalhes das minhas ações nos governos do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff.

A candidata Marina Silva (PSB) já aparece empatada com a presidenta Dilma Rousseff nas pesquisas eleitorais. Qual sua avaliação desse novo cenário? 
Na hora em que eleitor for decidir quem está mais preparada para o conduzir o Brasil, quando ele comparar as candidatas, tenho certeza que a presidente Dilma será a vencedora.

Alexandre Padilha, do PT | André Porto/MetroPesquisa divulgada recentemente mostrou que a população reprova a qualidade dos serviços de saúde em todos os níveis. Como melhorar essa situação?
Eu já mostrei que é possível, em um prazo curto, enfrentar os problemas de saúde. Mesmo aqueles considerados impossíveis. Quando assumi o Ministério da Saúde, a falta de médicos era um dos piores problemas. Demos uma solução com o Mais Médicos.  O programa garantiu uma expansão rápida do atendimento básico e já atende 50 milhões de brasileiros.

A demora para conseguir uma consulta ou marcar um exame é uma das principais  queixas da população. Como agilizar esse atendimento? 
Vamos implantar em São Paulo um modelo de clínica 3 em 1. O paciente poderá passar por um especialista, agendar um exame e ter o primeiro atendimento em um mesmo local. A iniciativa reduzirá o tempo de espera por atendimento.  Também vamos criar o Mais Médicos Especialistas para garantir o atendimento rápido para consultas com oftalmologistas, pediatras e ortopedistas.

O acesso a medicamentos é outra queixa dos paulistas, principalmente em cidades pequenas do interior e do litoral. Como ampliar a distribuição e garantir a oferta de remédios de uso contínuo?
Por meio de parcerias. Trazendo para São Paulo o modelo de farmácia popular. Criamos o programa no Ministério da Saúde e levamos para vários Estados, apenas o de São Paulo não aceitou. Não precisamos abrir novas farmácias, mas fechar parcerias, por meio de incentivos, com as já existentes.

Alexandre Padilha, do PT | André Porto/MetroExiste uma saída para tirar do vermelho as santas casas e os hospitais universitários?
Temos que agir em duas frentes. A primeira é melhorar a atenção básica, o que permitirá uma redução nos encaminhamentos. Isso permite uma melhor destinação dos recursos. A outra é combater a corrupção que assola toda máquina pública estadual. É preciso combater efetivamente os corruptos, e não apoiar um conselheiro suspeito de enriquecimento ilícito no Tribunal Contas, como faz o atual governo.

As disputas entre PT e PSDB contribuíram para a Santa Casa de São Paulo decidir fechar o pronto-socorro?
Foi resultado da decisão do governo atual de utilizar os repasses do Ministério da Saúde para garantir superávit em suas contas. O próprio mantenedor da Santa Casa, uma pessoa que jamais votou no PT, confirmou essa situação. Infelizmente, o atual governador coloca a disputa partidária à frente dos serviços à população.

O senhor pretende manter o modelo de parcerias com organizações sociais para gerir hospitais públicos?
Sim. Fizemos uma série de parcerias durante minha passagem pelo Ministério da Saúde. Participamos de iniciativas aqui na capital, como no caso do hospital Santa Marina. Sou favorável a atrair a iniciativa privada para o setor da saúde. O que vamos adotar é um controle sobre os serviços prestados pela entidade parceira e descentralizar o sistema de reserva de leitos.

São Paulo e o sistema Cantareira enfrentam sua pior crise de abastaecimento de água. Se o senhor fosse o governador hoje, já teria adotado o racionamento? 
Teria realizado as obras necessárias, e que estavam previstas desde 2004, quando o atual governador já estava no cargo.

Mas o sr. adotaria ou não o racionamento?
Eu teria feito as obras previstas desde 2004 e com isso evitaria a adoção de medidas emergenciais e mal planejadas.

Alexandre Padilha, do PT | André Porto/MetroPara o sr., o atual governo de São Paulo confiou demais em São Pedro? 
A crise hídrica é falta de dinamismo para execução de projetos. Depois de 20 anos no poder, o modelo do atual governo se desgastou. Agora, entrega vento encanado para a população e coloca a culpa na falta de chuva. À noite, em vez de água, a torneira tem vento encanado.

Eleito, o senhor garante que São Paulo não enfrentará uma nova crise hídrica como a atual? 
Garanto realizar as obras necessárias para garantir o abastecimento na região metropolitana e no interior do Estado. Não vou esperar até o último momento para iniciar as obras dos sistemas São Loureço e Juquitiba. Construir os três reservatórios necessários para suprir a demanda da zona leste da capital e dos municípios no entorno de Campinas. Não vou repetir o modelo do governo, que chega ao fim com improvisações.

O senhor critica os resultados dos 20 anos de PSDB à frente do Estado, mas o eleitor indica que apoia a continuidade do atual governador. Credita os resultados da pesquisas a quais fatores?  
Essa hegemonia chegará ao fim este ano. Acredito que o paulista quer um governador mais dinâmico, que assuma novos desafios. O atual governador não conta, como nas outras eleições, com um grande arco de apoio de partidos. Será a primeira eleição, nos últimos 20 anos, em que o PSDB não terá o maior tempo de televisão.

Falando em campanha, quem estará ao seu lado no palanque?
O Lula, a presidente Dilma e vários ministros e prefeitos que já me acompanham em caminhadas e eventos.

Essa lista inclui o prefeito Haddad, mesmo com a sua administração avaliada como ruim/péssima por 47% dos paulistanos?
Claro que o Haddad estará ao meu lado. Ele já participou de eventos em diferentes bairros da capital e irá para o palanque, sim. Ele é um reforço para minha campanha. Como já disse, sua gestão completou um ano e meio. O paulistano ainda notará as mudanças de sua administração.

A presidente Dilma é rejeitada por 47% dos paulistas. Esse resultado pode ter impacto em sua campanha?
De forma alguma. Essa rejeição é resultado de uma falta de conhecimento das ações do governo federal em São Paulo. Agora, com 11 minutos no programa eleitoral no rádio e na televisão, será possível apresentar essas iniciativas e os resultados de cada uma delas nos Estados. Tenho certeza de que essa rejeição apresentará uma queda expressiva no decorrer dos programas.

Eleito, como lidará com as invasões realizadas pelo  MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e o MST (Movimento dos Sem Terra) ? 
Vamos buscar um consenso. Fui o coordenador do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social no governo Lula. Nele, levamos à mesma mesa empresários, banqueiros e os movimentos sociais. Meu plano prevê formar um conselho e buscar saídas para o déficit habitacional e outras ações que possam ser negociadas.

Qual será sua postura frente aos atos de vandalismo protagonizados por “black blocs” em São Paulo?
Você precisa separar o movimento social legítimo de quem vai às ruas para quebrar e depredar. Participei das manifestações para pedir o impeachment do ex-presidente Fernando Collor sem quebrar nada, sem usar máscara.

Mas não é irônico que hoje Collor seja senador e integre a base aliada do governo Dilma?
Foi ele que mudou, não o PT. E ele foi eleito democraticamente pelo Estado de Alagoas.

Como será a postura da PM no seu governo? 
Será diferente do atual, que foi leniente com o vandalismo durante a Copa do Mundo. Atos de vandalismo ocorreram sem nenhum tipo de intervenção da PM. Isso de um governo que criminaliza movimentos sociais e agiu com extrema violência em desocupações de áreas invadidas. A PM tem os instrumentos e o conhecimento necessários para atuar.

O sr. é favorável à redução da maioridade penal? 
Sou favorável ao uso de todas as medidas legais possíveis para manter em privação de liberdade um menor que tenha cometido um crime hediondo.

Como reduzir os índices de criminalidade no Estado? 
Primeiro, reduzindo a impunidade. Hoje, apenas 5% dos crimes são solucionados. Vamos investir em tecnologia e modernização das policias. Também vamos incentivar ações conjuntas.

Há algum projeto do governador Geraldo Alckmin que o senhor aprova? 
O Poupatempo. É uma iniciativa eficiente. Mas precisamos aprimorar o modelo.

Qual a sua posição a respeito da inspeção veicular estadual? 
Sou favorável ao controle da poluição, mas sem onerar os motoristas.

Em sua campanha na TV, o senhor afirma que irá acelerar a expansão das redes do Metrô e da CPTM. Como fará isso? 
O governo do PSDB construiu, em média, 2 quilômetros de trilhos de metrô por ano. Alckmin promete expandir a rede dos atuais 70 quilômetros para 184 quilômetros e levar a rede para a região metropolitana até 2030. Eu garanto que é possível fazer isso até 2020.

Mas como? Qual será a origem dos recursos necessários para a execução dessa expansão? 
Seguindo dois caminhos. O primeiro é combater a corrupção no sistema de transporte. Isso será feito com a criação de uma controladoria, seguindo os modelos do governo federal e da Prefeitura de São Paulo. O segundo é adotar o mesmo modelo federal para a concessão dos aeroportos.

Ou seja, por meio da privatização do sistema?
Adotando o mesmo modelo do governo federal para os aeroportos. A iniciativa privada ficará responsável pela construção e operação do sistema. Faremos o mesmo para garantir a modernização do trens da CPTM. Acredito que não haverá resistência por parte dos sindicatos que representam os metroviários e os ferroviários. Também iremos buscar parcerias com a União.

Falando em parcerias. Na campanha, o prefeito Fernando Haddad prometeu aumentar a participação da prefeitura no Metrô, mas isso não ocorreu. Com o PT também no Estado isso pode mudar?
Ele irá aumentar os repasses. O Haddad completou um ano e meio de governo agora, ainda há muito pela frente. Com o Plano Diretor, aprovado recentemente, parte do potencial construtivo vendido ao setor imobiliário será destinado para o transporte coletivo, incluindo a expansão do metrô.

As manifestações de junho de 2013 foram uma reação ao aumento na tarifa de transporte público. É possível manter o congelamento das passagens?
Não se pode tomar nenhuma medida sem uma análise detalhada. É preciso avaliar o momento certo para um reajuste. Calcular o impacto do aumento de custos e o peso da inflação sobre o sistema. Com a integração de todo o sistema, incluindo os ônibus intermunicipais, é possível reduzir custos e as tarifas. Proponho a criação de um bilhete integrado, que permitirá uma redução em até 25% no gasto dos passageiros com transporte.

Na Assembleia Legislativa, o PT tenta abrir uma CPI para investigar as denúncias de formação de cartel no Metrô e na CPTM. Os parlamentares reclamam da interferência do governador contra a investigação. Eleito, o senhor apoiará a apuração?
Primeiro, vou acabar com qualquer tipo de escândalo no Metrô e na CPTM. Sempre vou respeitar as iniciativas de apuração da Assembleia. Quero desenvolver um trabalho de parcerias com o Legislativo para ampliar todos os instrumentos de transparência.

O Estado enfrentou recentemente um disputa judicial contra as concessionárias de rodovias por divergências nos índices de correção das tarifas de pedágio. O senhor manterá os atuais contratos ou mudará o modelo vigente?
O Estado só foi à Justiça após a apresentação dos primeiros resultados da CPI dos Pedágios na Assembleia. O PT já demonstrou,  em todas as esferas de governo em que está à frente, que respeita os prazos dos contratos assinados. E isso será mantido em São Paulo. Temos contratos com concessionárias que só irão vencer em 2018. O que é preciso avaliar é se o atual custo das empresas corresponde ao percentual de reajuste proposto.

Passado o período de vigência dos contratos, fará mudanças?
A partir da renovação dos contratos em 2018, vamos discutir o modelo de concessão sobre uma nova ótica. Temos que levar em conta o processo de modernização da cobrança. Os sistemas eletrônicos ganham mais espaço a cada ano. Também temos que calcular o impacto do aumento da frota. Todos esses fatores têm impacto direto em um aumento na arrecadação por parte das concessionárias. Agora, esse ganho deve refletir em um aumento dos investimentos em melhorias nas rodovias sem a necessidade de aumentos nas tarifas.

Qual a sua posição sobre a  progressão continuada em vigor no ensino estadual? 
Sou totalmente contrário aesse sistema. Não há melhora alguma na formações dos estudantes. Esse modelo deve ser abandonado. Aluno tem que ter  prova, boletim e recuperação. Vamos priorizar também a formação do professor e reestruturar o plano de carreira da categoria.

 

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