O engenheiro Adenor Martins de Araújo, hoje com 72 anos, trabalhava na Telesc, a empresa estatal de telefonia de Santa Catarina, no final dos anos 1970, quando um pequeno drama familiar o motivou a desenvolver um sistema que gerou ganhos incalculáveis para o sistema Telebras e para as companhias privadas que o sucederam.
Ao chegar em casa uma noite, em Florianópolis, o inventor da ligação direta a cobrar se comoveu com as reclamações da filha Luciana, então com 11 anos, que havia saído cedo da aula e não tinha dinheiro para voltar de ônibus para casa. Sem conseguir entrar em contato com a família, acabou passando várias horas na rua em um dia frio do inverno catarinense.
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Cientista autônomo (sua função na Telesc era na manutenção e não no desenvolvimento), Araújo se debruçou sobre os circuitos do sistema telefônico e criou um protótipo para inverter os polos de cobrança das ligações com a adição do 9 antes do endereço numérico.
Estrutura gigante
Na época, a ligação a cobrar era possível, mas muito difícil. Era preciso ligar para o serviço de telefonista e pedir o serviço. O profissional então ligava para o número de destino e perguntava pelo destinatário da chamada. Se a pessoa não estivesse, nada feito. “Ai a telefonista tentava outra hora, outro dia, até achar o receptor e perguntar se ele aceitava a chamada à cobrar. Demorava”, lembra o engenheiro.
Depois da ligação ser completada, o processo de cobrança também era complexo. Ao contrário das chamadas diretas, nada era automatizado.
Havia funcionários para contar os minutos, calcular a tarifa e endereçar a conta. “Eram centenas de pessoas em vários andares. A inversão dos polos acabou com isso”, afirma Araújo.
Testes
Ansiosa para modernizar o sistema, a diretoria da Telesc na época aceitou imediatamente o pedido do inventor para testar a tecnologia. O sucesso foi imediato e a chamada a cobrar se espalhou pelo Brasil em poucos meses.
Araújo chegou a colher os louros da invenção ao ser homenageado por autoridades na época, mas os tapinhas nas costas acabaram depois que ele patenteou a criação e foi tentar negociar os royalties com as companhias telefônicas.
A Telebrás conseguiu cancelar a patente na Justiça alegando questões técnicas e se negou a dividir os lucros com o engenheiro. Começava ali uma batalha judicial de quase três décadas.