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A volta por cima de Nancy Pelosi, a mulher mais poderosa dos EUA

Deputada democrata pela Califórnia, que fez história como 1ª mulher presidente da Câmara dos Representantes, perdeu popularidade após defesa obstinada de sistema de saúde de Obama, mas deu volta por cima e, aos 78 anos, retorna para liderar oposição a Trump.

Quando a congressista democrata Nancy Pelosi assumiu o cargo de presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, na quinta (3), se tornou não apenas a terceira pessoa mais importante na linha de comando político do país, depois do presidente e do vice-presidente, mas também aquela que liderará a oposição a Donald Trump.

Adorada e odiada em igual medida, sua trajetória revela uma extraordinária habilidade de sobreviver na política.

Em 2007, ela fez história ao se tornar a primeira mulher a chefiar a Câmara dos EUA. Em 2010, quando os Democratas perderam a maioria na Casa, ela passou a liderar a oposição até retornar, agora, à presidência da Câmara.

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Pelosi terá a responsabilidade de comandar a pauta do Congresso americano e fiscalizar investigações contra Trump. Também deverá coordenar a estratégia dos democratas, que recuperaram o controle da Câmara dos Representantes nas eleições de novembro de 2018.

Futuros enfrentamentos

Este é o mais recente capítulo de uma mulher que cresceu numa família imersa na política, na costa leste dos Estados Unidos, que conquistou reconhecimento entre os grupos mais liberais do Estado da Califórnia e que tem sido uma figura chave do partido Democrata por quase 15 anos.

A jornalista Elaine Povich, autora de uma biografia de Pelosi, diz que "as pessoas se equivocam em subestimá-la".

"Nunca aposte contra ela. (Pelosi) Trabalha arduamente, é a mais organizada dos políticos e conta votos muito bem."

Essas habilidades serão postas à prova nos próximos meses.

"Ela terá que equilibrar as diferentes prioridades dos democratas enquanto enfrenta as chamas do Vesúvio político que é Donald Trump", afirma Anthony Zurcher, repórter da BBC especializado na cobertura de política norte-americana.

Um exemplo de como poderá ser a relação entre Pelosi e Trump é o embate sobre a aprovação do orçamento americano de 2019. A democrata se recusa a destinar qualquer recurso para o muro que o presidente americano quer construir na fronteira com o México.

"Ela saiu desse duelo com o reconhecimento dos democratas, mas para muitos no espectro político de esquerda, esse é apenas o começo", diz Zurcher.

O jornalista explica que dentro do próprio partido de Pelosi há divergência sobre como agir em relação ao orçamento. Há quem peça uma supervisão contundente das ações de Trump, enquanto outros querem aprovar logo a legislação orçamentária para permitir que os membros do partido democrata utilizem esse feito para fins eleitorais.

Alguns serviços do governo estão paralisados por falta de recursos, porque o Orçamento de 2019 ainda não foi aprovado.

As raízes

Pelosi cresceu em Baltimore, no Estado de Maryland, leste dos Estados Unidos. O pai dela foi prefeito da cidade. Ela é a mais nove de sete irmãos – a única mulher.

"Exercer política em Baltimore implicava ser bem sucedido na máquina política da velha escola democrata. Era importante saber a quem ajudar e a quem prejudicar, além de sempre guardar um registro de favores concedidos e recebidos", diz Zurcher.

"Pelosi cuidava do manejo das contas políticas da sua família, o que incluía atender a oito linhas diferentes de telefone."

Ela estudou em Washington, que fica perto de Baltimore, onde conheceu o marido, o financista Paul Pelosi.

Os dois se mudaram para Manhattan, em Nova York, e depois para a cidade de San Francisco, na Califórnia.

Tiveram cinco filhos, quatro meninas e um menino.

O início na carreira política

Em 1976, aproveitando-se das conexões políticas da família, Pelosi ajudou ao então governador da Califórinia, Jerry Brown, que queria se lançar à Presidência, a ganhar as primárias do partido Democrata.

A partir daí, começou a trajetória de ascensão no partido e, em 1988, foi eleita deputada. Ela representava uma parte da cidade onde havia uma significativa comunidade gay e atuou fortemente na obtenção de financiamentos para pesquisas sobre o vírus HIV.

Também se envolveu numa longa batalha para transformar uma base militar em San Francisco num parque natural.

Em 2001, foi eleita chefe de um grupo parlamentar da Câmara dos Representantes. No ano seguinte, se tornou líder da oposição.

Ela foi uma das vozes mais críticas à invasão do Iraque, em 2003, e em 2005 ajudou a derrubar o projeto do ex-presidente George W. Bush de privatizar parcialmente o programa de aposentadoria administrado pelo governo.

O poder do cargo

A descrição das atribuições do posto de líder da Câmara está na Constituição norte-americana. Quem o ocupa passa a ser a segunda pessoa na linha de sucessão do presidente da República, depois apenas do vice-presidente.

O amplo gabinete destinado ao presidente da Câmara, com uma varanda com vista para o emblemático monumento a Washington, reflete o prestígio do cargo.

O partido com maioria na Câmara controla a agenda legislativa, além de estabelecer as regras para o debate das propostas.

"Se o líder do grupo se mantém em harmonia com os membros do seu partido – o que nem sempre acontece – o processo de legislar na Câmara funciona como uma máquina bem azeitada", diz Zurcher.

Foi isso o que aconteceu na última vez em que Pelosi ocupou o cargo.

Entre 2009 e 2011, foi aprovado um pacote de estímulo econômico para lidar com a crise de 2008 da ordem de US$ 840 milhões. Também foram aprovadas reformas financeiras, leis ambientais e contra a discriminação de gênero no pagamento de salários.

Combativa

Pelosi também lutou pela aprovação do emblemático programa de saúde promovido pelo governo de Barack Obama, o chamado Affordable Care Act.

"Nessas negociações, eu via em Pelosi a estrategista. Ela organizava reuniões ao longo do dia e da noite e fazia malabarismos em ligações telefônicas para líderes de ambas as Casas, secretarias e o presidente da República", escreveu Donna Edwards, deputada de Maryland, no jornal The Washington Post.

Oito meses depois dessa votação, os democratas perderam 63 cadeiras e a maioria na Câmara dos Representantes.

"Em parte, isso se deveu ao furor dos conservadores com a reforma do sistema de saúde e o papel de Pelosi em impulsionar a proposta. Ela se tornou uma figura tão impopular politicamente que não podia fazer campanha por candidatos democratas em público", afirma Zurcher.

Oposição interna

Pelosi também teve que enfrentar oposição dentro do próprio partido – 16 parlamentares democratas pediram que ela fosse retirada da liderança do partido.

Sugeriram que havia chegado o momento de substituir Pelosi, de 78 anos.

Nas semanas que se seguiram, no entanto, a democrata conseguiu controlar a rebelião ao fazer uma concessão: um limite de oito anos à sua permanência na liderança do partido.

"Eu me vejo como uma ponte à geração seguinte de líderes. Reconheço a minha responsabilidade de guiar, desenvolver e ajudar novos membros a ocuparem posições de poder", afirmou.

Sobrevivente

E como ela se converteu numa sobrevivente? Ela não é conhecida por ser uma boa oradora ou uma pessoa particularmente carismática.

Mas Zurcher destaca que a democrata é competitiva na briga por votos no Congresso, extremamente organizada e incansável.

"Está perto de fazer 80 anos, mas todos os dias trabalha até tarde da noite e raramente tira férias", diz.

"Ela também é competente em arrecadar fundos. Entre 2002 e 2018, conseguiu US$ 660 milhões para o partido Democrata."

Povich, também destaca que a oratória não é o forte de Pelosi. "Negociações internas, formação de coalizões e organização são sua fortaleza."

A previsão para a presidente da Câmara é de dias tumultuados. Ela precisará buscar um consenso entre o grupo que quer confronto com o governo Trump e os moderados de seu partido.

"É provável que os próximos anos sejam de conflitos e impasses entre os partidos. O papel de Pelosi será crucial", conclui Zurcher.

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