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Você pagaria para enviar um e-mail? Uma nova maneira de evitar o excesso de mensagens

Se tivessem que pagar para enviar uma mensagem, será que as pessoas mudariam de ideia? Dan Egan, especialista em finanças comportamentais, decidiu descobrir.

Eu peço que as pessoas doem US$ 20 (cerca de R$ 76) para me enviar um e-mail. E acho que todos deveriam fazer o mesmo.

Permitam que eu me apresente: é isso o que eu faço para ganhar a vida. Gasto meu tempo pensando em como ajudar as pessoas a tomarem decisões mais inteligentes sobre dinheiro, tempo e felicidade.

Não é raro que entrem em contato comigo a respeito de pesquisas, orientação de carreira ou até mesmo consultoria sobre investimentos pessoais.

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Embora este seja sem dúvida um problema bom para se ter, o volume de mensagens que chega à caixa de entrada pode ser alto e repetitivo, minando meu entusiasmo para responder.

Há alguns anos, soube que Marc Andreessen (um investidor de capital de risco de sucesso) responderia a qualquer e-mail por US$ 100 (R$ 384). Neste mercado, em que os contatos podem fazer uma enorme diferença, US$ 100 é um valor incrivelmente barato.

Intrigado, decidi abraçar essa ideia. Estava convencido de que era algo que todos nós deveríamos fazer.

Por isso, no meu site pessoal, você encontra um link para uma página hospedada no Earn, serviço que permite que as pessoas ganhem Bitcoins concluindo tarefas.

Se alguém quer entrar em contato comigo, peço que faça por meio do Earn. Lá, solicito uma doação de US$ 20 destinada a uma instituição de caridade. A pessoa se compromete com o pagamento, e a doação só é efetuada se eu responder o e-mail.

Da minha parte, recebo a mensagem e decido se é interessante ou não. Se não for, posso rejeitar (é o que acontece geralmente com as mensagens sobre criptomoedas). De qualquer maneira, a pessoa obtém um retorno claro e rápido.

Em dois anos, comecei cinco contatos excelentes dessa maneira. Geralmente, continuamos trocando e-mails da forma tradicional depois que a tarefa inicial é concluída; o pagamento não é por mensagem.

Ou seja, não se trata de uma fonte de renda. A grande questão é: pense em todas as mensagens que deixei de receber.

O custo assimétrico dos e-mails

A internet é incrível. Podemos nos comunicar com qualquer pessoa no mundo instantaneamente e de graça.

Mas isso também leva ao spam: mensagens com as quais você gostaria de não ter perdido tempo. Costuma-se dizer que a caixa de entrada de e-mail é uma lista de tarefas à qual qualquer um pode adicionar itens.

Enviar um e-mail é praticamente de graça, mas filtrar e ler as mensagens tem um custo sob vários aspectos.

Em primeiro lugar, toma nossos recursos mais preciosos: tempo e atenção. Depois de limpar minha caixa de entrada, preciso fazer uma pausa, mesmo que não tenha realizado nada de fato.

Em segundo lugar, e mais traiçoeiro, é que a enxurrada de e-mail inútil acaba ocultando os de qualidade.

Mesmo excluindo o spam, se é de graça enviar solicitações às pressas e mal formuladas, vou receber mais mensagens deste tipo do que redigidas cuidadosamente. Mas tenho que ler todas elas para encontrar as que valem a pena.

Aqui está uma mensagem padrão que recebo:

"Vejo que compartilhamos alguns interesses em comum e acho que seria ótimo nos conectarmos. Podemos conversar em algum momento, talvez haja algo que possamos fazer juntos … "

A maioria das soluções oferecidas para spam são voltadas ao destinatário, para lidar com o volume e a qualidade dos e-mails recebidos. Mas há uma maneira melhor: filtrar as mensagens que chegam fazendo com que o remetente valorize meu tempo tanto quanto eu.

‘O remetente que paga’

Imagine se alguém que quer chamar sua atenção te pagasse com base em quão valiosa sua atenção é para você. E se, por exemplo, recebêssemos US$ 1 (cerca de R$ 3,80) por cada e-mail promocional enviado pelos anunciantes?

Você não conseguiria ganhar a vida lendo anúncios publicitários, mas o custo para o remetente enviar uma propaganda mal direcionada seria muito maior. A imposição de uma pequena cobrança melhoraria a qualidade dos anúncios visualizados e reduziria o número e-mails recebidos. Além disso, o dinheiro seria um bom prêmio de consolação.

E não é apenas o comportamento dos anunciantes que pode mudar. A cobrança da taxa faz com que qualquer pessoa que esteja buscando sua atenção seja mais ponderada na hora de avaliar se vale investir tempo e dinheiro para entrar em contato.

Vendedores, recrutadores, aquelas pessoas que querem "apenas botar o papo em dia" vão pensar duas vezes se vale pagar US$ 10 (cerca de R$ 38) para garantir que você leia seus e-mails.

Existem opções por aí. O Bitbounce é uma "solução de combate ao spam" que solicita aos remetentes que não estão na sua lista de contatos o pagamento de uma pequena quantia por cada e-mail; do contrário, a mensagem vai direto para o spam. Uma das exigências da Bitbounce é que você use criptomoeda, o que significa uma barreira para muita gente, mas é um bom começo.

Idealmente, cada um de nós poderia personalizar os custos por remetente, tempo ou assunto. As pessoas com menor demanda por seu "custo de atenção", por exemplo, poderiam fixar um preço menor. Poderíamos estabelecer ainda que parentes, amigos e organizações que amamos sejam isentos, ao mesmo tempo em que definiríamos um preço alto para o spam.

É sério mesmo?

Até eu fico um pouco constrangido ao explicar minha política de e-mail. As pessoas não acham que é egoísta, arrogante ou rude? E aquelas pessoas para quem o custo da mensagem pode representar um montante significativo?

Em relação à primeira pergunta: todos que entraram em contato comigo por meio da plataforma Earn ficaram felizes em fazê-lo. Ajuda o fato de que o dinheiro vai para instituições de caridade que eu apoio – não estou ficando rico com isso.

Mas com certeza não é perfeito.

Eu lembro de quando era jovem e precisava fazer escolhas importantes. Enviei e-mails para pessoas que eu admirava, solicitei seu tempo e orientação e tive sorte quando me responderam.

Em gratidão àqueles que me ajudaram e por desdém aos que me desprezaram, lembro de tomar uma decisão: nunca ignorar uma pessoa mais jovem à procura de orientação. Claro, isso é mais fácil quando você não precisa fazer malabarismo com um emprego de 50 horas por semana e um filho de três anos.

Ao adotar esse sistema, é possível que – sem saber – eu tenha perdido grandes conversas ou pessoas que poderia ter ajudado. Gosto de pensar que os mais motivados conseguem encontrar outra forma de chegar até mim.

Benefícios involuntários

Uma vez que você percebe o quanto seu e-mail está mais organizado sob o modelo "o remetente que paga", é estranho pensar que não estamos todos fazendo isso.

As vantagens da mudança podem ser percebidas rapidamente. Agora fico ansioso para ler os e-mails, porque quase tudo vale a pena. Gasto muito menos tempo lendo e ignorando solicitações genéricas.

E isso faz com que eu me comprometa a dar uma resposta de mais qualidade, porque sei que o remetente também valoriza o meu tempo. Boa vontade e consideração são um ciclo virtuoso.

* Daniel Egan é diretor de finanças comportamentais e investimentos da Betterment, consultoria financeira online. Ele supervisiona uma equipe de especialistas em investimentos quantitativos e comportamento financeiro.

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Capital.

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