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Os tesouros “roubados” da África que foram parar em museus da Europa e dos EUA

Estátuas de reinos africanos, trajes de casamento, esculturas de pedra… Itens que retratam a cultura e história dos povos africanos estão espalhados por museus britânicos e americanos. Mas, nos últimos anos, países da África têm reivindicado o retorno dessas peças. E alguns museus concordaram com a repatriação.

Durante o período colonial na África, milhares de artefatos culturais foram levados do continente pelos europeus. Agora, países africanos querem o retorno desses bens de enorme valor artístico e histórico.

A BBC News lista abaixo algumas dessas peças.

Bronzes de Benin

Os Bronzes de Benin são esculturas delicadas e placas que adornavam o palácio real de Ovonramwen Nogbaisi, o Oba do Reino de Benin (equivalente a um rei). O território, que hoje é a Nigéria, foi incorporado ao Reino Unido durante o período colonial.

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As peças eram feitas de zinco, marfim, cerâmica e madeira. Várias delas foram feitas em homenagem aos ancestrais de reis e rainhas do passado.

Em 1897, os britânicos lançaram uma expedição «punitiva» contra o Benin, em resposta a um ataque a uma expedição diplomática.

Além das esculturas, inúmeros outros objetos reais foram retirados de lá à força e espalhados pelo mundo.

O Museu Britânico de Londres diz que vários dos objetos de Benin foram entregues à instituição em 1898 pelo Ministério de Relações Exteriores e pela Marinha.

Em outubro, os principais museus europeus concordaram em enviar de volta para a Nigéria alguns dos mais valiosos objetos. Eles ficarão no Museu Real, previsto para ser inaugurado em 2021 no país africano.

Comedores de humanos de Tsavo

Estes eram os dois leões de Tsavo, na região do Quênia, no leste da África, que mataram e comeram trabalhadores que construíam uma ferrovia entre Quênia e Uganda, no final do século 19.

Foram nove meses de obras para concluir a linha que ligava Mombasa ao Lago Vitória. Os dois animais foram eventualmente mortos a tiros pelo engenheiro britânico John Patterson.

Os leões foram empalhados e comprados de Patterson pelo Museu Field de História Natural, na cidade Americana de Chicago, em 1925, e catalogados como parte da coleção permanente desse museu.

Patterson disse, na época, que a fome desenfreada dos dois leões resultou na morte de 135 trabalhadores e africanos que moravam na região, mas o Museu Field disse que uma pesquisa posterior conduzida por cientistas reduziu drasticamente essa estimativa para 35.

O Museu Nacional do Quênia quer os animais empalhados de volta ao país africano.

Pedra de Roseta

Com 1,12 metros de altura, a Pedra de Roseta, que está no Museu Britânico, em Londres, é originariamente do Egito. Trata-se de um fragmento de rocha de granodiorito. O texto encravado nela ajudou pesquisadores a compreenderam os hieroglifos do Egito Antigo- uma forma de escrita que utilizava figuras e símbolos.

A rocha contém três colunas da mesma inscrição em três idiomas: grego, hieroglifo e demótico egípcio. O texto é de um decreto escrito por clérigos em 196 a.C, durante o reinado do faraó Ptolomeu V.

Não está claro como a rocha foi descoberta em julho de 1799, mas a crença geral é de que foi encontrada por soldados que integravam o exército de Napoleão Bonaparte, quando eles ampliavam uma fortaleza perto da cidade de Rashi- também conhecida como Roseta- no Rio Delta.

Quando Napoleão foi derrotado, os britânicos tomaram posse da rocha, nos termos do Tratado de Alexandria, em 1801. Ela foi, então, transportada à Inglaterra, chegando à cidade portuária de Portsmouth em fevereiro de 1802. O rei George III ofereceu a rocha ao Museu Britânico alguns meses depois.

Rainha de Bangwa

A escultura de madeira Rainha de Bangwa, de 81 centímetros, representa o poder e a saúde do povo Bangwa, da região do Camarões.

É uma das peças de arte africana mais famosas do mundo e possui um significado sagrado para a população camaronesa.

Esculturas de esposas da realeza e princesas eram chamadas de Rainha de Bangwa no território de Bangwa, hoje Lebialem, distrito do sudoeste do Camarões.

A Rainha de Bangwa foi dada ou confiscada pelo administrador colonial alemão Gustav Conrau, em 1899, antes de o território do Camarões ser oficialmente colonizado.

A peça acabou no Museu für Völkerkunde, em Berlim, e depois foi comprada por um colecionador em 1923. De acordo com o The New York Times, o colecionador Harry A. Franklin, então, comprou a escultura em 1966 por US$ 29 mil. Depois que ele morreu, a peça foi vendida num leilão do Sotheby’s, em Londres, por US$ 3,4 milhões.

O pintor surrealista Man Ray incluiu a Rainha de Bangwa numa pintura de uma modelo nua, em 1937, que acabaria se tornando uma das obras de arte mais famosas do mundo.

Atualmente, a escultura hoje pertence à Fundação Dapper, de Paris. A peça ficou exposta no Museu Dapper até 2017, quando a galeria focada em arte Africana fechou por falta de público e alto custo de manutenção.

Líderes tradicionais de Bangwa tem se correspondido com a fundação para exigir o retorno da peça ao Camarões. O economista senegalês Felwine Sarr e o historiador francês Bénédicte Savoy, autores de um relatório sobre arte estrangeira requisitado pelo presidente francês Emmanuel Macron, recomendaram que a legislação francesa seja alterada para permitir o retorno da obra de arte africana ao seu país de origem.

Tesouros de Magdala

Os tesouros de Magdala incluem uma coroa de ouro do século 18 e um vestido de casamento tirados da Etiópia (antes Abissínia) pelo Exército britânico em 1808.

Historiadores dizem que 15 elefantes e 200 mulas foram necessárias para carregar tudo o que foi «roubado» pelos britânicos do imperador Tewodros II, de Magdala, cidade no centro da Etiópia que hoje se chama Amba Mariam.

Na época, os britânicos saquearam Magdala em protesto contra a detenção de seu cônsul, quando as relações entre o imperador e o Reino Unido se deterioraram.

Parte desses tesouros ficou no museu Victoria and Albert, em Londres.

A coroa e o traje de casamento são símbolos importantes da Igreja Ortodoxa Etíope. Pesquisadores acreditam que a coroa foi encomendada em 1740 pela imperatriz Mentewab e seu filho, o rei Iyyasu, e entregue como presente a uma igreja em Gondar, juntamente com um cálice de ouro.

Já o vestido de casamento pertencia à rainha Woyzaro Terunesh, esposa do imperador Tewodros II. Em 2007, a Etiópia exigiu formalmente o retorno dessas peças. Em abril deste ano, o Victoria and Albert ofereceu o retorno à Etiópia em caráter de empréstimo.

Pássaro do Zimbábue

Esculturas de pedra-sabão em formato de águia representam o emblema nacional do Zimbábue. Várias delas foram roubadas de ruínas de uma cidade antiga. Só oito pássaros esculpidos foram recuperados.

Eles ficavam nas paredes e monolitos de uma cidade construída entre os séculos 12 e 15 pelos ancestrais do povo Shona. Sete dessas esculturas estão no Zimbábue desde 2003, quando uma delas foi devolvida pela Alemanha.

A peça acabou nas mãos de um missionário alemão, que a vendeu ao Museu Etnológico de Berlim, em 1907.

Depois que tropas soviéticas invadiram a Alemanha, no final da Segunda Guerra, ela foi removida de Berlim para Leningrado (hoje São Petersburgo), na União Soviética, onde permaneceu até o final da Guerra Fria, quando retornou à Alemanha.

A oitava escultura de águia se encontra no antigo quarto do imperialista britânico do século 19 Cecil Rhodes, cuja casa na Cida do Cabo, África do Sul, foi convertida em museu.

Ele havia levado estátuas de águia do Zimbábue para a África do Sul em 1906. A África do Sul devolve quatro delas ao Zimbábue em 1981, um ano depois de o país se tornar independente.

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