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Como reportagem da BBC sobre predadores sexuais no YouTube levou à captura de um pedófilo

Leitor que mora na Austrália passou a olhar comentários de teor sexual em vídeos de crianças e adolescentes e descobriu um criminoso nos Estados Unidos.

Uma série de reportagens do blog BBC Trending sobre predadores sexuais do YouTube, que mostrava as falhas da plataforma de vídeos em relação às medidas de proteção de crianças, levou um leitor da Austrália a fazer uma investigação que resultou na prisão de um pedófilo nos Estados Unidos.

Entre outros aspectos, a reportagem mostrava como pedófilos se aproximavam de menores por meio de comentários de teor sexual em vídeos feitos por menores na plataforma de vídeos.

Esse foi o ponto que mais preocupou o leitor australiano – e pai – Jack (nome fictício) ao ler as reportagens. Especialmente o fato de que as pessoas que faziam esses tipos de comentários, deixados no ar por semanas ou meses, estavam escapando de qualquer punição que não fosse, em alguns casos, o banimento de suas contas do YouTube. Ele começou então a fazer uma pesquisa no canal para achar comentários obscenos dirigidos a crianças. E, para sua surpresa, não foi difícil encontrá-los.

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«Havia centenas, milhares de vídeos repletos desses comentários», diz ele à BBC.

Ele então decidiu ir atrás de uma pessoa que havia deixado uma dessas mensagens. Pesquisou e achou um perfil no Facebook. Era o começo de uma investigação que, segundo Jack, levou dez dias e foi feita de sua própria casa.

A investigação

Após vasculhar a vida do homem suspeito de pedofilia, um morador do Condado de Washington, um local de muitas fazendas e poucas fábricas em Ohio, nos EUA, Jack identificou entre os amigos dele na rede social um policial – com quem entrou em contato para falar do comportamento suspeito do homem.

O oficial trabalhava em um condado vizinho ao de Siders. Ao receber a denúncia, ele a encaminhou para as autoridades do Condado de Washington, que repassaram o caso, para o detetive-sargento Scott Parks, que tem uma década de experiência em casos de abuso sexual de crianças e em crimes online.

Nessa mesma época, delegacias locais receberam a informação de que alguém teria visto pornografia infantil no computador de Sider. Essa informação, mais a que já havia sido enviada pelo leitor da BBC, fez com que Parks começasse uma investigação. Não demorou muito para que ele descobrisse que de fato havia algo.

«O cara estava curtindo muitos vídeos de adolescentes andando de roupa íntima. Em alguns, elas estavam sem a camiseta», conta o policial. Ele começou a ver ali um padrão de comportamento.

«Redigi um mandado de busca para a residência de Sider com base nessas informações e o executamos no dia seguinte», diz Parks.

A prisão

Parks e seus colegas foram à casa de Sider para cumprir o mandado de busca.

«Ele mora numa área rural, há alguns trailers em volta. Ele vivia em um deles», diz ele. «Ele veio até a porta, usava roupas de mulher. Pediu para se trocar antes de falar comigo, e eu disse que tudo bem. Quando eu estava de volta à viatura, ele vaio falar comigo, equanto fazíamos a busca na casa.» Segundo Parks, Sider falava de «maneira prática».

«Ele não negou completamente o que estava fazendo… não minimizou», diz o oficial. «Ele disse que tinha interesse em olhar pessoas peladas de todas as idades. Ele gostava de olhar garotas peladas.»

O policial diz que então perguntou qual seria a idade da pessoa mais velha que ele estaria interessado em olhar, e ele disse que talvez alguém nos 30 ou 40 anos. «Aí perguntei qual seria o extremo oposto, a idade da mais nova… e ele disse que não havia uma.»

Enquanto Parks conversava com ele no carro, os investigadores não demoraram para achar evidências de crime dentro da casa. Havia pornografia infantil no celular e no computador de Sider.

Durante a investigação, verificou-se que os crimes de Sider não ocorreram apenas na internet. Ele abusava de garotas na região em que morava e chegou a abusar sexualmente das filhas de um amigo.

Em novembro, Sider foi considerado culpado de uma série de acusações e condenado a dez anos de prisão.

Sentença

Aos 69 e com a saúde ruim, «Sider provavelmente vai passar o resto dos dias na prisão», diz Parks.

O sargento-detetive afirma que não fica mais chocado com casos como esse. «Aprendi de certa forma a me acostumar ao fato de que os humanos podem ser muito cruéis com outros.»

«Não ouvi (o Sider) falar sobre nada disso. Enquanto sua sentença era proferida, não acredito que ele tenha mostrado uma ponta de remorso.»

O leitor australiano Jack ficou espantado com o fato de ter conseguido achar um criminoso online.

«Eu fiz isso sem ajuda num período de 10 dias, sem nenhum recurso, exceto a internet da minha casa e umas mensagens de Facebook entre mim e um policial. Tomou cerca de 15 minutos do meu tempo», diz à BBC.

E Parks está agradecido.

«Se mais pessoas fossem como esse rapaz da Austrália, poderíamos pegar muitos outros desses caras», fala. «Isso é incrível e eu aplaudo a iniciativa. A polícia não pode estar em todos os lugares e a toda hora, especialmente na internet».

O caso mostra a natureza dúbia das redes sociais – e das novas tecnologias nas comunicações. Um pedófilo perigoso foi capaz de usar a internet para seus propósitos. Mas isso também permitiu que uma história circulasse mundialmente e possibilitou que um homem tomasse atitude, seguindo as pistas deixadas virtualmente pelo criminoso.

O sargento-detetive Parks tem um aviso para os possíveis predadores sexuais e um pedido a todas as pessoas.

«As pessoas deveriam estar cientes que, se forem fazer isso, nós as estaremos observando», ressalta. «É o trabalho de todo mundo no planeta cuidar das crianças. Especialmente na internet.»

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