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Decifra-me ou vai ter desfalque

Rubem-Penz

Certa feita, um velho professor diante da jovem plateia propôs aos pupilos um enigma. Haveria três vagas na hierarquia funcional a serem preenchidas por três candidatos: uma para ocupar a cadeira do presidente, uma na gerência e a última na produção. Os candidatos contariam com três características pessoais, das quais uma seria descartada: inteligência, honestidade e eficiência. A proposta: que montassem suas equipes sem jamais repetir o perfil.

Do centro da sala, um pupilo ergue a mão:

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– Já escolhi: o presidente seria honesto e inteligente, seu gerente honesto e laborioso e o funcionário inteligente e laborioso.

– Tem certeza? – disse o mestre. – O problema é que nesta configuração o presidente verá que seu subordinado imediato não nota que abaixo dele há desvios, pois comanda um desonesto. Que dilema! Ou pactua, ou demite todo mundo.

Outro pupilo, mais para trás, propôs novo arranjo:

– Que tal assim: o presidente seria laborioso e inteligente, seu gerente honesto e inteligente e o funcionário honesto e laborioso.

– Será? – disse o professor. – A falha é que desta maneira o gerente constataria que seu presidente comete desonestidades, prejudicando a si e ao bom e inocente funcionário. Um enrosco: ou pactua, ou denuncia e suporta graves consequências.

Um terceiro pupilo, já confuso, propôs sem certeza:

– E se o presidente fosse honesto e laborioso, seu gerente laborioso e inteligente e o funcionário honesto e inteligente?

– Interessante… – disse o mestre. – O destino deste arranjo indica que o funcionário descobriria que seu superior imediato é ladrão e o líder nada vê. Uma tragédia: ou pactua, ou pede demissão. Ou, bem pior, de algum jeito será demitido.

Na primeira fila, o pupilo que só anota e nunca abre a boca perde a paciência. Larga a caneta, ergue a cabeça (antes enfiada no caderno) e pede a palavra:

– Mestre, este enigma é totalmente furado e o senhor está desperdiçando nosso tempo. Parece óbvio que nenhuma forma de organizar esse corpo vai funcionar. Se não há resposta certa, qual a razão do desafio?

É quando o velho professor responde, olhando para todos:

– A razão deste enigma é dar pistas sobre a quem mais interessa cercar-se apenas de pessoas obtusas.

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