Emocionou-me a atitude do são-paulino Rodrigo Caio. No domingo, quando da disputa de São Paulo x Corinthians pela semifinal do Paulistão, o árbitro Luiz Flaviano mostrou cartão amarelo ao atacante corintiano Jô, por um suposto pisão no goleiro adversário Renan Ribeiro. Seria o terceiro e, portanto, Jô estaria fora do jogo de volta. Imediatamente após o árbitro erguer o braço sinalizando a punição, o zagueiro do São Paulo, Rodrigo Caio, envolvido no lance, assumiu a responsabilidade e disse que de fato foi ele a chocar-se com o companheiro de equipe. Ou seja, disse ao árbitro que foi o pé dele a pisar no goleiro e não o do corintiano. O cartão foi anulado.
A atitude de Rodrigo Caio é um exemplo, neste momento de absoluta falta de credibilidade nossa. Escrevo nossa porque me refiro ao nosso País. Estamos desacreditados e com justificada razão. E então chega do futebol um baita exemplo, a esperança de que há cidadãos honestos e com vontade de trabalhar por um país melhor, sem malandragem. Ainda que a própria torcida do São Paulo tenha condenado o simbólico gesto de seu zagueiro.
E não foi só a torcida, invariavelmente embalada por muita paixão e pouca razão. Em entrevista coletiva, o companheiro de equipe e capitão do São Paulo, o também zagueiro Maicon, sugeriu que não repetiria a atitude do colega. “Eu prefiro a mãe do meu adversário chorando em casa do que a minha”. Disse mais: “Se foi certo ou não (o que Rodrigo Caio fez) a consciência tá com ele”. Lamentável. Que despreparo tem este jogador que ainda por cima ostenta a braçadeira de capitão do time. Maicon não foi apenas infeliz. Escancarou algo sorrateiro. Quando deveria aplaudir o colega também como capitão e líder do time preferiu colocar em dúvida o ato. Preferiu respaldar a malandragem de levar vantagem, independente do que está correto.
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Partiu do futebol, na interpretação de um de seus mais célebres representantes, a tese de querer levar vantagem sempre. “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”, estigmatizou o canhotinha de ouro Gérson, lamentavelmente condenado por ler o texto em uma propaganda de cigarros nos anos 1970. A frase virou uma nefasta lei, lei de Gérson. Na verdade, os publicitários criadores do texto é que deveriam ter sido execrados publicamente.
Rodrigo Caio desafiou a lei de Gérson no último domingo e colocou sua consciência e seu caráter à frente da possibilidade concreta de prejudicar um rival. Deu exemplo ao País. O que Maicon não percebeu – e outros tantos que pensam igual – é que antes de ser adversário, Jô é um colega de profissão. Nada justifica ser desonesto ou esconder a verdade a fim de levar algum benefício. Nem que seja a sua mãe que tenha que chorar em casa. Melhor ela chorar um dia por uma derrota sua do que a vida inteira por ter criado um filho desonesto.