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É por isso

jorge1 -nascimento colunistaPrimeiramente: defender direitos humanos não é ser a favor de bandido. Lutar contra o extermínio de jovens negros não é ser contra a polícia. Ser contra a pena de morte não significa que há crimes muito brutais e covardes. Querer um sistema penal mais humano não é ser a favor de que criminosos gozem de regalias e benesses. As prisões brasileiras são campos de concentração para pobres, uma máquina de moer gente que acaba com qualquer possibilidade de reintegração do ex-detento à sociedade. Faço essas afirmações devido à onda conservadora e retrógrada que explode no Brasil, que cria anomalias como um político que defende a ditadura militar, entre outras aberrações, ter tantos simpatizantes, civis que fazem continência e que cantam o Hino Nacional como se fossem eles os únicos e verdadeiros brasileiros. O nacionalismo que exclui a diferença é prenúncio de ditaduras, de leis injustas que tiram a liberdade de muitos.  Oficialmente, a única profissão que exerci é a de professor, dois anos no ensino médio no Rio de Janeiro, vinte e três no superior, na Ufes. Salvo alguns pequenos problemas (lidar com gente não é fácil), me dou bem com alunos, tentando dar-lhes liberdade, valorizando suas opiniões e expondo meus pontos de vista em assuntos diversos. Muitos de nós, professores, sabemos do poder libertador da educação, por isso não nos permitimos sermos opressores. Essa ideia estapafúrdia, esse monstro ideológico batizado de Escola Sem Partido, é auge do processo de imbecilização coletiva que estamos vivendo. Precisamos de mais espaços de diálogos, de processos que permitam aos que não são como nós habitar o nosso espaço social e vital. Amordaçar ideologicamente a educação é uma distopia que pode enganar alguns teleguiados pela onda fascista, mas que não poderá ser posta em prática, somente se as salas de aula virassem um poderoso big brother comandado por algum onipotente e onipresente general nazista. Pior que isso talvez só o editorial do jornal que pede o fim da universidade pública gratuita. Ao contrário, queremos mais escolas livres, universidades públicas que reflitam, através da inclusão, a pluralidade da sociedade brasileira. Dessa forma, daqui a algum tempo, não precisemos mais construir os tais campos de concentração para pobres. Mais escolas públicas e libertadoras, menos meninos e jovens encarcerados, é isso que nosso futuro merece, é por isso que lutamos.

* Os textos publicados neste espaço são de responsabilidade do autor

Jorge Nascimento é doutor pela UFRJ,  professor do Departamento de Línguas e Letras da Ufes e escreve quinzenalmente neste espaço 

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