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Obras para a instalação do TRT em Belo Horizonte começam a sair do papel

Acostumada com o clima inseguro e de movimentação suspeita na rua Guaicurus, no Centro de Belo Horizonte, a enfermeira Sônia Cardoso, de 47 anos, vem achando curioso o vai e vem de material, caminhões e pedreiros que começou a fazer parte da rotina do local nos últimos meses. “Acho que é uma obra da prefeitura, alguma coisa na Andradas. Me pergunto o que é isso todos os dias quando pego ônibus aqui, mas até hoje não sei”, brinca. Assim como ela, muita gente que passa por ali diariamente não consegue entender do que se trata todo aquele movimento. Também não é para menos. Após tanto tempo abandonada e com aspecto meio fantasmagórico, é difícil imaginar que a antiga sede da escola de engenharia da UFMG, assim como todos os imóveis históricos nos dois quarteirões situados entre as ruas Espírito Santo e Bahia, no entorno da Praça da Estação, não estejam abandonados.

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Cedido pela universidade ao TRT-MG (Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais) em 2006 para a instalação de novas varas da Justiça, o projeto começou, aos poucos, a sair do papel. As obras tiveram início no último dia 11 de outubro e as novas instalações terão capacidade para abrigar 70 varas – 22 a mais que as 48 hoje instaladas nos prédios alugados da avenida Augusto de Lima, no Barro Preto. Além das varas, o novo fórum também vai abrigar a Escola Judicial do TRT-MG, salas de treinamento, serviços de apoio, agências bancárias, estacionamento e bicicletário.

Para tudo isso, a previsão é que sejam gastos R$ 108,5 milhões. Apesar do alto custo, a obra deve gerar uma boa economia aos cofres do Tribunal, que prevê corte nos gastos com o aluguel a partir da mudança para a sede própria. A conclusão está prevista para 36 meses.

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Por trás dos muros

A obra mais adiantada até o momento é a do estacionamento do prédio onde funcionará a Escola Judicial do Tribunal. Por trás das fachadas tombadas – que continuarão de pé – a pavimentação já começou a dar forma ao novo edíficio. Atualmente, há cerca de 100 trabalhadores no local.

Conforme o secretário de Engenharia do TRT-MG, Hudson Luiz Guimarães,  esse é o primeiro passo do projeto, que em seguida deve partir para os edifícios onde funcionavam as salas de aula da antiga escola de engenharia. “O Edifício Arthur Guimarães, com proteção legal, terá restauração das fachadas, do hall de elevadores, da cabine de um elevador para mínimo de 30 pessoas, da rampa entre térreo e o 2º pavimento e dos auditórios, respeitando sua antiga arquitetura”, explica.

O edifício Arthur Guimarães, ao qual Hudson se refere, é o prédio branco da rua Espírito Santo com Guaicurus, e que tem a fachada tombada. Ao lado está o prédio Álvaro da Silveira, que também será reaproveitado. “Pelo tempo em que ficou sem uso, muita coisa se perdeu. Do que temos hoje em ambos os prédios, apenas a estrutura poderá ser aproveitada”, diz o engenheiro. Formado pela UFMG, ele é um dos ex-alunos que frequentaram a escola de engenharia na época.

Tempos de abandono

Por 50 anos (1959 – 2009), o quarteirão da rua Guaicurus sediou a Escola de Engenharia da UFMG. Em 2010, quando o processo de transferência para o campus Pampulha foi concluído, o local ficou ocioso e acabou dando espaço para a criminalidade. Localizado no ‘baixo centro’, onde a ocorrência de roubos e outros delitos é mais frequente que em outras regiões do hipercentro da capital, o ponto ficou abandonado por mais de seis anos. Ainda hoje, mesmo com a retomada do local, é comum ver moradores de rua e usuários de drogas ocupando as laterais do prédio.

Todo esse tempo ocioso, segundo o desembargador José Murilo de Morais, foi fruto de burocracias que atrasaram o início das obras. “Quando a UFMG deixou o prédio para o TRT, tivemos que regularizar um monte de pendências no cartório. Também demos o azar do projeto ter sido apresentado na mesma época da construção do Boulevard Arrudas. Por causa disso, a prefeitura, na época, reduziu o coeficiente de aproveitamento de 1.7 para 1.0, inviabilizando a execução da obra”, ressalta o desembargador.

Para que o projeto fosse liberado, foi preciso que a Câmara Municipal aprovasse uma mudança no coeficiente e que o prefeito da época, Marcio Lacerda (PSB), sancionasse a medida.

Presidente do TRT-MG, o desembargador Júlio Bernardo do Carmo aposta na mudança de endereço para ajudar a revitalizar a região. “Creio que a vinda de varas do trabalho vai contribuir também para renovar a região, porque esses prédios antigos estavam abandonados. Muitas pessoas vão circular por aqui, movimentando o entorno, dando uma nova vida. A Justiça do Trabalho mineira esperava há um bom tempo por esse espaço para melhorarmos os serviços prestados à sociedade”, afirma.

‘50 anos de tradição’ 

Quando as aulas da Escola Livre de Engenharia de Belo Horizonte tiveram início no dia 8 de abril de 1912, a sede da instituição era situada na Avenida do Comércio – hoje Santos Dumont – 174, onde atualmente funciona o Centro Cultural da UFMG. Apenas em 1952 a Congregação da Escola de Engenharia aprovou o projeto para a construção da nova sede também na região central da jovem capital. Assim, é inaugurado em 1959 o Edifício Arthur Guimarães. Em seguida, o complexo foi ampliado com a construção do Prédio Álvaro da Silveira. Por exatos 50 anos, os prédios foram berço dos principais engenheiros do país até que em 2004 a nova e atual sede começou a ser erguida e, em 2010, o processo de transferência da EEUFMG para o campus Pampulha foi concluído.

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