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‘Destruíram minha vida’, diz ex-secretária de Leandro Boldrini, pai de Bernardo

Andressa Wagner é uma das personagens coadjuvantes do caso Bernardo, o assassinato do menino de 11 anos em abril de 2014 em Três Passos, no norte do Rio Grande do Sul. Em 2010, quando a mãe do garoto, Odilaine Uglione, morreu com um tiro na cabeça, ela era secretária do médico Leandro Boldrini, pai de Bernardo. Andressa foi apontada anos depois, em uma perícia particular, como autora da carta de suicídio que foi encontrada na bolsa de Odilaine.

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A morte aconteceu dentro do consultório de Boldrini e foi definida como suicídio pela Polícia Civil. O caso foi reaberto após a morte do garoto, a pedido da família de Odilaine, que não aceitava a tese. Novamente os investigadores chegaram à mesma conclusão. Atualmente, estão presos à espera de julgamento Boldrini, a madrasta do garoto, Graciele Ugulini, e os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz.

Eles respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver, entre outros crimes. Nesta entrevista, concedida por e-mail à jornalista Isabela Kuschnir, Se, Andressa Wagner conta como a suspeita mudou sua vida.

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Como a senhora conheceu Leandro Boldrini? Vocês mantinham uma relação profissional tranquila?

Conheci o dr. Leandro Boldrini quando trabalhava na farmácia do prédio onde ele tinha o consultório. Ele era exigente, mas era tranquilo trabalhar com ele.


A senhora acredita que sua grafia é parecida com a de Odilaine? Em sua opinião, houve má-intenção dos peritos particulares quando te apontaram como autora da carta de suicídio?

Eu nunca li nada escrito por Odilaine em todo o tempo em que trabalhei para o Leandro Boldrini. Não sei como é a grafia dela. Além disso, foram raros os contatos com a senhora Odilaine, nas oportunidades em que ela esteve na clínica. Ela se limitava a cumprimentar e se reservar com o marido na sala dele. Entendo que houve má-fé sim dos peritos, pois a família de Odilaine busca, ao que parece, a qualquer custo, achar culpados pelo falecimento dela. Vejo neles uma busca por vingança contra Boldrini e contra todos que os que lhe cercavam, por não admitirem o suicídio. Fizeram um laudo, acredito, que visando causar comoção social e jogar a opinião pública contra as autoridades para reabrirem o caso. Fui injustamente e inescrupulosamente colocada na cena do crime. Foi muita covardia. Acharam que assim fazendo poderiam me amedrontar para que eu viesse a contar algo que pudesse saber. Sempre falei a verdade, em todas as vezes em que fui chamada pela polícia e pela Justiça.

 

Sobre o seu imóvel em Três Passos [foram investidos R$ 80 mil oito meses após a morte de Odilaine]: o terreno e a casa foram adquiridos através de financiamento ou houve empréstimos de terceiros?

Não teve empréstimo privado. Foi financiado pelo programa Minha Casa Minha Vida, mais um pequeno valor de recursos do FGTS meu e de meu marido. Eu tinha dois empregos. Está tudo descrito na matrícula do imóvel que inclusive foi disponibilizada na internet.

 

Como foi a sua infância? A senhora cresceu em Três Passos?

Nasci no Paraná. Com dois anos fui morar numa cidadezinha no interior do Paraguai. Lá tivemos uma infância pobre, minha mãe lavava roupa para fora para nos sustentar porque colheita de safra era só uma vez no ano e meu pai trabalhava na lavoura e fazia alguns bicos por fora. Morávamos numa casa de chão batido, não tinha luz elétrica e nem água encanada. Era difícil a vida no interior. Meus pais não tinham condições de dar uma vida boa para nós. Com nove anos vim morar em Três Passos, assim que atingi a idade comecei a trabalhar no comércio.

 

A senhora acredita que seu ex-patrão esteja preso injustamente?

Acredito na Justiça. Se ele deve, irá pagar, mas ele sempre se preocupou com o Bernardo… Eu sentia amor dele pelo filho. Isso era visível. Porém, o trabalho lhe consumia tanto que ele deixou os cuidados da casa e da família a cargo da mulher. Leandro nunca disse não para o trabalho… Não tinha hora nem dia para trabalhar… Às vezes esquecia dele mesmo.

 

Como o caso Bernardo mudou sua vida? Mudança de endereço, de profissão, maior dedicação à família?

Tinha uma vida estabilizada. Eu tinha emprego fixo, depois perdi, fiquei mal vista pela cidade. Pessoas me julgando, me apontando como se eu soubesse de algo sobre a morte da senhora Odilaine, tive que mudar de cidade, de profissão, minha filha também sofreu com tudo isso, sabendo de meu sofrimento me perguntando por que eu chorava. Caí em depressão profunda, faço uso de medicamentos até hoje, por mais que eu saiba que não devesse tudo o que estavam me acusando, pois sempre tive minha consciência tranquila, sofri muito. Destruíram minha vida, foi muito difícil para mim passar por tudo isso, mas graças à minha filha, que é por ela que hoje estou aqui, por não ter feito bobagem e pela família maravilhosa que eu tenho, que me deram muita força e que estou tentando superar.

 

A senhora conhecia Bernardo Boldrini? E Jussara Uglione, a avó dele?

Conhecia Bernardo, óbvio, pois ele seguidamente ia até o trabalho do pai. Nunca vi Jussara pessoalmente.

 

A senhora pretende processar a família de Odilaine?

Não sei ainda. Vou conversar com meu advogado. Mas o mal que eles me causaram foi enorme.

 

A quantas anda o processo contra os peritos particulares? Já houve indiciamentos? Houve recomendação do seu advogado para que o processo fosse aberto no noroeste gaúcho e não mais próximo da sua atual residência?

O processo foi aberto na comarca do meu atual endereço e encontra-se em fase de citação dos réus.

 

Antes da reabertura das investigações da morte de Odilaine, a senhora conhecia o delegado do caso, Marcelo Mendes Lech?

Não conhecia o delegado. 

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