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Advogado desiste da profissão ao cruzar com o assassino do pai na rua

Captura de Tela 2016-07-20 às 20.13.51“A partir de hoje eu não sou mais advogado”, desabafou Rafael Guimarães, de 32 anos, após cruzar em uma rua de Porto Alegre com o assassino confesso do seu pai, solto do Presídio Central por um habeas corpus concedido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Rafael atuou como assistente de acusação, junto ao Ministério Público, para condenar à prisão Guilherme Antônio Nunes Zanoni, preso em flagrante por esfaquear Oscar Vieira Guimarães Neto – o pai de Rafael. O caso foi o primeiro, e provavelmente o último, de sua carreira.

“Fico pensando no quanto eu estudei pra me tornar advogado, pra chegar agora e minha vida se encontrar nessa situação. Eu confesso que tenho vergonha da profissão que escolhi. Por isso, a partir de hoje, não me procurem mais nesse sentido”, decretou Rafael no Facebook, num post que já conta com 22 mil curtidas.

Na segunda-feira, Rafael caminhava pela avenida Borges de Medeiros, após sair do trabalho por volta das 18h, quando viu Zanoni caminhando livremente em sua direção. “Eu sabia que ele estava preso, então na hora não acreditei que fosse ele e passei reto. Quando cheguei no fim da rua, olhei para trás e ele estava me olhando. Foi aí que eu tive certeza que era o assassino do meu pai. Fiquei em estado de choque”, relata Rafael.

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O assassino foi solto na sexta-feira da semana passada, após seu advogado, Rodrigo Gracellé Vares, entrar com um pedido de habeas corpus, que foi aceito pelos desembargadores do Tribunal de Justiça por dois votos a um.

No entendimento dos magistrados, o réu, que também é advogado, deveria ser preso em uma sala apropriada para alguém com Ensino Superior – chamada de “Sala de Estado Maior”, que conta com comodidades diferenciadas em relação a uma cela comum.

Como não existe nenhuma Sala de Estado Maior em Porto Alegre, os desembargadores aceitaram que Zanoni ficasse em prisão domiciliar até ser julgado. Por isso, ele deixou o Presídio Central, onde estava preso desde a noite do crime, há oito meses.

“Não tenho qualquer ânimo para continuar sendo advogado. Esse assassino em liberdade é a prova de que nem a lei funciona nesse país”, confessa Rafael.

OAB crítica falha do Estado

O presidente da OAB/RS, Ricardo Breier, criticou a falha do Estado em não possuir uma Sala de Estado Maior para o acusado aguardar, em regime fechado, o julgamento. Breier ainda convidou Rafael para uma reunião hoje na sede da Ordem gaúcha, às 14h. “Temos comissões e projetos atuando para cobrar medidas como essa e outras envolvendo a segurança pública. Rafael Guimarães será convidado a se engajar nessas causas e não desistir da profissão”, ressalta.

Relembre o caso

No dia 5 de novembro do ano passado, Oscar Vieira Guimarães Neto – que na época era síndico do edifício Santa Eulália, na Avenida Desembargador André da Rocha, no centro – foi morto a facadas pelo seu vizinho, Guilherme Antônio Nunes Zanoni, de 25 anos. O assassino foi encontrado pela polícia junto ao corpo de Oscar, usando luvas cirúrgicas, ao lado da faca utilizada no crime.  

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