Esporte

Três anos após acidente, Lais Souza treina como se estivesse na ginástica

Um beijo no rosto. Uma foto. Um sorriso. Mais um beijo no rosto. Outra foto. Outro sorriso. Uma repetição que se seguiu por dezenas de vezes. Lais Souza não se importou em atender pacientemente todos os fãs que formaram fila para tirar foto com ela no expositor da BodyAction, seu novo parceiro, durante a Arnold Classic, maior feira esportiva da América Latina, que acontece no Transamérica Expo, em São Paulo.

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A ex-ginasta, que ficou tetraplégica após sofrer um acidente de esqui em 27 de janeiro de 2014, durante treinos nos Estados Unidos, conversou pacientemente com o Portal da Band após atender os fãs. Esse comportamento de atenção e carinho, segundo ela, é uma nova forma de encarar a vida. Foi um aprendizado para “dar valor às coisas pequenas… ficar rodeada de pessoas boas”.

Se a forma de encarar a vida mudou, e isso inclui também suas pretensões particulares, como a decisão de ficar solteira por um tempo, o mesmo não se pode dizer de sua dedicação aos treinamentos. Lais afirmou que segue uma dura rotina todos os dias, em busca do sonho de voltar a andar. É uma batalha diária, que a faz lembrar o tempo em que competia por medalha: “procuro estar sempre em dia, como se estivesse na ginástica”.

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Portal da Band – Quase três anos e três meses após o acidente, como você está?
Lais Souza –
 Eu estou me sentindo melhor fisicamente. Estou fazendo muitas coisas para tornar minha vida mais fácil e adaptada no geral. Mas, cara, mudou tudo. Meu sonho, meus objetivos. Eu imaginava uma coisa, e a vida me deu outra resposta…

O que mudou na sua forma de viver?
O que eu consigo perceber muitas vezes é dar maior valor para coisas pequenas, passar um tempo com a família, sobrinho, para estar rodeada de pessoas boas. Tento não ficar nervosa com coisas pequenas, sabe. Tem gente que briga no trânsito só porque o outro ultrapassou. São coisas pequenas assim, que não compensam.

Você ganhou o apoio de suplementação da BodyAction. Como é importante para você ter esse tipo de ajuda, já que muitos atletas estão sofrendo por não terem mais patrocínio após os Jogos Olímpicos?
O primeiro ano depois da Olimpíada é sempre muito difícil. O atleta fica em baixa, sente depressão porque toda a ajuda de um ano simplesmente some no outro. De uma forma, eu consigo entender as empresas também. Mas seria legal elas tentarem aproveitar melhor os atletas nesses anos vazios. Para mim, o que eu trabalho hoje perto do que podia fazer antes do acidente é bem menor, mas eu tento que seja bom para mim e eles. Usar a camiseta da empresa, conversar com a mídia, atender ao público…

Você realizou tratamento de células-tronco nos Estados Unidos, e chegou a ficar de pé. Como estão os trabalhos de fisioterapia?
Eu fico de pé faz algum tempo já. Um ano depois do acidente eu já comecei a ficar de pé. De um tempo para cá, tenho usado um extensor que me ajuda a fazer exercício de ficar em pé, com exercícios de braço, de costas, de peito. A fisioterapia é um complemento essencial na minha vida. Sempre quando converso com os médicos, eles deixam clara a importância do treinamento, que faz ligação entre o cérebro e o corpo. Procuro estar sempre em dia com o treino, como se estivesse na ginástica.

O Brasil é um país que evoluiu na questão da acessibilidade?
A gente está numa crescente boa. Mas temos de aproveitar o momento agora, de mudança, que está tudo meio doído, com algumas áreas meio paradas. Temos de dar graças a Deus que temos o celular na mão. Com ele, podemos ver as coisas que acontecem nos outros lugares do mundo e sempre buscar o melhor. Se for a saúde dos EUA, da Europa. A gente tem de ficar atento e não ficar parado. Temos de fazer o máximo, pensar no próximo e aproveitar esse período de mudança.

E como você está sentindo o contato com o público, principalmente numa feira como a Arnold Classic?
Em particular, é muito importante para mim. Tudo o que tem aqui, o esporte, o movimento, o músculo… Eu não tenho mais. A BodyAction me convidou e me deu a oportunidade de tomar um suplemento que ajudará na minha massa muscular, que é pouca, mas que ao mesmo tempo não me faz engordar.

Ainda tem o sonho de ser mãe?
Não é o meu desejo máximo. Sei dos riscos que corro. Sei que é difícil. Tenho de cuidar da minha saúde todos os dias. Segurar a pressão, que é muito baixa ou muito alta, dependendo da situação do dia. Mas eu tenho vontade sim. Quero em algum momento me sentir pronta para deixar uma ‘Laisinha’.

Você está solteira desde 2015, quando terminou com sua namorada. Ainda pensa em uma relação?
Na época, eu senti a necessidade de ter o meu momento. Não estava bem fisicamente para me entregar e tudo mais. Tomei a decisão de ficar sozinha. Hoje, estou muito bem e com a correria do dia a dia, esse esforço de fisioterapia e estudos, não encontrei um espaço para colocar uma pessoa. Claro que ainda penso em casar, pode ser que algum momento aconteça, mas agora está cedo.

 

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