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Ismael Ivo estreia à frente do Balé da Cidade com obra sobre desafio e coragem

Desde que Ismael Ivo foi anunciado como diretor do Balé da Cidade de São Paulo, logo no início do ano, criou-se uma forte expectativa sobre que rumos artísticos ele traria para a longeva companhia, na ativa há quase 50 anos e famosa por coreografias virtuosas e um elenco afiadíssimo.

Paulistano da Vila Ema, na zona leste de São Paulo, Ivo é um dos nomes mais representativos da dança brasileira no exterior. Negro e de origem humilde, ele ganhou o mundo nos anos 1970 após ter sido convidado a ingressar na conceituada companhia de Alvin Ailey, nos EUA, e de lá, partiu para a Europa, onde dirigiu o Teatro Nacional da Alemanha e foi diretor da Bienal de Dança de Veneza, entre outras importantes atribuições.

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Ele traz o peso desse currículo e o impacto de seu reencontro com a cidade onde nasceu no primeiro programa na nova casa, “Corpo-Cidade”, que toma o palco do Theatro Municipal com apresentação de duas criações.

“Adastra”, de Cayetano Soto, já estava no repertório do grupo. O foco se volta, portanto, para a inédita “Risco”, com direção cênica de Sérgio Ferrara. “São Paulo é dessas cidades que você tem que amar para estar. Sempre senti que, apesar de todas as dificuldades, ela me deu desafio e coragem de realizar muito”, afirma Ivo, por telefone, às vésperas da estreia.

Ele buscou na paisagem urbana a inspiração para o trabalho, criado a partir de improvisos dos bailarinos à frente de grafites, tipo de arte que suscitou forte debate ao ter exemplares apagados pela gestão de João Doria quando ele assumiu a mesma prefeitura que colocou Ivo no Balé.

“Retorno em um momento especial, porque o Brasil, enquanto país, está revendo todos os seus valores políticos, sociais, existenciais, econômicos e morais. São Paulo também está se revendo e se autocriticando. É uma chance minha de contribuir para transformações.”

A criação evoca a obra e a figura de Jean-Michel Basquiat (1960-1988), que marcou a cena artística nova-iorquina com Andy Warhol. Na coreografia, ele ganha contornos de um morador de rua.

“Saio do Municipal e percebo um hotel. Nunca vi tanto morador de rua na cidade. O que significa isso? Como traduzir isso? O sonho de arte e de vida de Basquiat dialoga com São Paulo”, diz ele, que acredita na potência do corpo para debater a realidade.

“É claro que esse é um tema polêmico, mas é exatamente aí onde penso que a dança tem que atuar. Penso corpo como um documento do nosso tempo e desejo que ele seja um testemunho vivo dessa situação”, conclui.

Serviço:
No Theatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/n, Centro, tel.: 2626-0857). Estreia hoje (24). Sex., sáb., ter. e qui., às 20h; dom., às 17h. De R$ 35 a R$ 100. Qua., às 20h, preço único: R$ 20. Até 1º/4.

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