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Exposição no CCBB remonta ousadia do pintor modernista Cícero Dias

O pintor espanhol Pablo Picasso escreveu uma carta no fim dos anos 1940 requisitando o retorno de seu amigo Cícero Dias a Paris – “aqui você é necessário”, dizia. Foi lá na capital francesa que o pintor pernambucano construiu sua carreira e sua fama, mas, infelizmente, não alcançou tamanha repercussão no Brasil. É para reconectar o país a esse gênio que a exposição «Cícero Dias – Um Percurso Poético» está montada no Centro Cultural Banco do Brasil.

Tido como um dos artistas brasileiros mais importantes do século 20, Dias é lembrado em uma retrospectiva com 125 obras, que abrangem desde suas primeiras experimentações, feitas em 1924, até alguns quadros pintados em 1970 – que se assemelham nostalgicamente aos do início.

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“Esta é uma oportunidade única. Pela primeira vez será reunido um acervo tão grande sobre Cícero Dias. Temos obras emprestadas de 10 instituições do Brasil e mais de 20 colecionadores ao redor do mundo. Dificilmente conseguiremos repetir esta amplidão”, diz a curadora da mostra, Denise Mattar.

Ficou sob responsabilidade dela não só a seleção das obras da exposição, como também a apresentação quase didática da mostra. Dividida em setores de acordo com sua temática e data de feitura, os quadros recontam a trajetória artística e também parte da vida de Cícero.

Para construir este percurso, Denise contou com a ajuda de Sylvia Dias, filha do pintor – e afilhada de Picasso. A mostra se divide em três grandes grupos: o primeiro mostra a ascensão da carreira do artista no Brasil; a segunda e maior parte apresenta a produção figurativa que ele executou na Europa; e, por último, são apresentadas as obras abstratas que ele criou na reta final de sua vida

A primeira parte da mostra apresenta 30 aquarelas feitas entre 1925 e 1933 pelo artista quando ainda morava em Recife. Diferentemente dos modernistas brasileiros do mesmo período, Cícero não usava influências do cubismo, mas do surrealismo em sua obra. Com cores vivas e traços  sensuais, o artista chocou e encantou com sua visão mágica do Brasil daquela época. Pinturas a óleo mostrando o cotidiano da Recife de 1930 também fazem parte deste grupo da exposição.

O período europeu, segunda etapa da mostra, retrata a dupla perseguição que Cícero sofreu. Primeiro, em 1937, indo para a Europa para fugir da ditadura varguista. Lá ele alcançou grande sucesso, mas sua jornada foi interrompida durante a Segunda Guerra Mundial, quando os alemães o prenderam. Neste período, ele realizou pequenas aquarelas em condições precárias e com traços grosseiros e cores fortes. Ao ser liberto, porém, não quis voltar para o Brasil. Havia se apaixonado pela francesa Raymonde, com quem foi casado até morrer.

Ao lado dela, voltou para Paris em 1948 e iniciou uma mudança na carreira, tornando seus quadros cada vez mais geométricos e abstratos. Nesta época voltou a ter reconhecimento no Brasil e passou a fazer alguns murais em Pernambuco, tidos como os primeiros murais abstratos da América Latina.

A evolução da abstração de Dias leva à terceira parte da mostra, que retrata a abstração plena à qual chegou, com formas e cores que fizeram a crítica associá-lo ao russo Kandinsky. No fim dos anos 1970, Dias retornou lentamente à figuração, com um traço cada vez mais suave e ousado, uma espécie de evolução do que fazia nos primórdios.

“O desconhecimento que o público tem em relação a Cícero se deve a ele ter passado muitos anos fora do Brasil, mas suas obras sempre se conectaram com uma estética nacional. O reconhecimento que ele teve no exterior vem  daí”, conclui Mattar.

Além das pinturas, fazem parte da exposição fac-similes de cartas e fotos que mostram a forte relação de amizade que unia Cícero Dias e os seus contemporâneos. Entre eles, além de Picasso, estão Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, José Lins do Rêgo, Paul Éluard e Alexander Calder, entre outros.

Serviço:
No CCBB (r. Álvares Penteado, 112, Centro, tel.: 3113-3651). De qua. a seg., das 9h às 21h. Grátis. Até 3/7.

 

Conheça obras de Cícero Dias presentes na exposição:

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