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Roger e Mano Menezes

cadu done colunista metroEntre os técnicos em atividade nos clubes do futebol brasileiro Mano e Roger são, para mim, ao lado de Dorival, os melhores. E além da qualidade, do grande conhecimento, do altíssimo nível de entendimento tático, do jogo de modo geral, os comandantes de Cruzeiro e Atlético têm muitas coisas em comum em termos de estilo, filosofia, preferências futebolísticas.

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Valorizar a posse, o controle, o passe; a tranquilidade para entrar tocando na defesa adversária de forma consciente, técnica e apoiada, com compactação e muita gente participando do momento ofensivo; resistência para não sucumbir facilmente aos chutões e ligações diretas: eis alguns pontos de convergência entre os treinadores dos dois gigantes mineiros. Mas isso não é teórico demais, difícil de ser percebido pelo torcedor comum que acompanha o esporte por paixão/entretenimento? Nem tanto. Reparem no seguinte – logo no início desta temporada isto deve acontecer com frequência: Galo e Raposa, em diversos momentos, quando estiverem buscando o ataque, quando se depararem com uma defesa fechada, não vão se desesperar; não “forçarão a barra”; nesta esteira, ao “baterem no muro” da marcação, ao invés de recorrerem um chuveirinho não muito cerebral/programado, meio na linha do “seja o que Deus quiser”, estas equipes vão voltar um pouco a jogada, tocarão para trás, e recomeçarão a agredir o oponente num novo ataque. Neste processo, lembremos: goleiros e zagueiros serão mais exigidos como integrantes da saída de bola, e muitos torcedores precisarão entender essa espécie de mudança de cultura.

Nas arquibancadas do nosso país comum é a impaciência e a visão de qualquer recuo para o arqueiro, qualquer retorno da bola para a defesa como algo pejorativo. Notem que nos estádios aquele murmurinho de insatisfação é corriqueiro quando jogadas deste tipo acontecem. Não deveria ser assim. É óbvio que todo mundo quer ver seu esquadrão trocando passes bonitos, agudos, objetivos, no terço final e machucando o inimigo. Mas enxergar este cenário o tempo todo é utopia no futebol de hoje mesmo em jogos contra clubes pequenos. Marcação, evolução tática/física, enfim… Há uma infinidade de fatores que tornam essa hipótese uma quimera. Assim, seguindo esse raciocínio, precisa-se concluir: se vai ser complicado entrar na retaguarda alheia, se será necessário para isso trabalhar, melhor fazê-lo com calma, tendo o domínio de tudo – e detalhe: ao ficar com a posse, automaticamente você está evitando que o oponente te agrida –, do que contando com a bondade do acaso, lançando na área para zagueiros fortes, altos e invariavelmente técnicos que estarão de frente, com total “preferência” para afastar o perigo; afinal, escolhendo esta opção pouco sofisticada, não apenas você diminui suas chances de sucesso para anotar o gol como, via de regra, entrega a posse para o rival com facilidade e passa a ter de se preocupar com o que ele vai fazer no ataque.

Cadu Doné é comentarista esportivo da rádio Itatiaia e da TV Band Minas, filósofo e escritor

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