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Arrogância e acaso

cadu done colunista metroNa Libertadores todo ano é a mesma coisa: fora basicamente Boca Juniors e River Plate, salvo raríssimas exceções circunstanciais, a maioria da imprensa e do público tupiniquins trata como “galinha morta” qualquer equipe estrangeira. Se não for argentina então…

Quando o trabalho nos obriga a falar de um time que pouco acompanhamos, grosso modo, as obrigações são duas: em primeiro lugar, estudar o clube, o esquadrão daquele momento, apurar informações diversas; depois, dependendo da situação, do que foi possível saber sobre aquela realidade, dar um passo para trás, ter cautela, calçar as sandálias da humildade – da sabedoria, na verdade –, e não ser tão peremptório quanto ao desconhecido.

Comparar orçamentos de agremiações que se enfrentam pode ser interessante por diferentes razões. Informação, curiosidade e até, em alguma medida, com bom senso, para fundamentar espécies de cobrança, de críticas. Mas enxergar que determinada folha é exponencialmente maior do que outra não cria sempre, necessariamente, a obrigação de vencer no Tio Patinhas do embate.

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Outro traço comum do futebol brasileiro: a desproporção, a mania de fazer estardalhaço com qualquer derrapada, o desejo maluco de demitir técnicos e condenar personagens em função de um, de poucos resultados ruins. Quando o tropeço é diante de um time pequeno, então… Abram alas para o fatalismo, um comportamento quase tribal, para o total acirramento do simplório que já dominava as convicções futebolísticas do sujeito desde sempre.

O Galo empatou com a URT. Fez segundo tempo fraquíssimo, digno sim de algumas críticas. Coletivamente, em termos de rendimento, o time não tem verdadeiramente convencido, é verdade. Mas o exagero em muitas análises é latente. E o curioso: por mais que os grandes não vençam os pequenos com frequência absurdamente alta, praticamente o tempo todo, nem com a mera observação dos fatos, das experiências algumas pessoas aprendem. Só neste final de semana, o Atlético não superou a URT, o Grêmio empatou com o Novo Hamburgo em casa, o Palmeiras foi surrado pela Ponte, que por sua vez acabara de eliminar o Santos… E a lista poderia continuar.

O que diferencia os grandes dos pequenos, no futebol, se materializa essencialmente em médio/longo prazo. As escorregadas são comuns. Não adianta se desesperar, se revoltar com acontecimentos isolados – óbvio que isso também depende… Há atributos, detalhes no jogo de futebol que o tornam especialmente convidativo para o acaso e a derrocada eventual, pontual de quem é melhor. Por tudo isso, ainda mais do que em quase todas as outras áreas, não costuma ser sábio, justo e inteligente analisar, julgar a capacidade futebolística em função de curtas amostragens. No todo, em geral, o pequeno usualmente é superado pelo grande porque, ao longo do tempo, seus golpes de sorte e/ou suas vitórias inesperadas que acontecem por qualquer motivo são de certo modo diluídas em meio às ocasiões em que a lógica resolve aparecer.

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