Brasil

Santana afirma que recebeu dívida do PT via caixa dois do partido

O marqueteiro João Santana e a mulher, Mônica Moura, presos pela Lava Jato desde fevereiro, afirmaram ontem à Justiça que US$ 4,5 milhões recebidos do lobista Zwi Scornicki em conta na Suíça eram dívida eleitoral do PT, paga pelo caixa 2 do partido.

Em audiências separadas ao juiz Sérgio Moro, o casal afirmou que o dinheiro, pago em nove parcelas entre 2013 e 2014, era decorrente de uma dívida de cerca de R$ 10 milhões da campanha da hoje presidente afastada em 2010.

“Nós não poderíamos fazer a outra campanha [a de 2014] se não recebesse (sic) essa dívida, e o partido sugeriu procurar o sr. Zwi [Scornicki]”, disse Santana.

Recomendados

Responsável pela Polis Propaganda, a empresa do casal, Mônica disse que “cobrou muito” a dívida, e “após dois anos de luta”, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari pediu a ela que procurasse Scornicki, com quem o pagamento foi acertado. Vaccari, que sempre negou envolvimento com o caso, também foi ouvido ontem por Moro, mas preferiu ficar em silêncio.

Santana e Mônica disseram que não sabiam que era propina. “O receio sobre a origem do dinheiro nunca tinha passado pela minha cabeça”, disse Mônica.

Essa confirmação, porém, foi dada ontem por Scornicki. Representante comercial do estaleiro Keppel Fels no Brasil, ele fez delação premiada, e disse ontem a Moro que o dinheiro, pago em parcelas de US$ 500 mil, foi “abatido da conta corrente” de propinas que a Keppel usava para ter contratos na Petrobras e na Sete Brasil, empresa produtora de navios-sonda à estatal.

Tanto Santana quanto Mônica foram questionados por Moro porque mentiram à PF (Polícia Federal) ao serem presos na 23ª fase da Lava Jato, a Acarajé, quando disseram que os pagamentos não tinham relação com o PT. Santana disse que teve um sentimento de “fidelidade” ao partido. Além disso, afirmou que não queria colaborar para o impeachment de Dilma.

Marqueteiro fala em ‘véu de hipocrisia’ na política

Com experiência de campanhas presidenciais em sete países, Santana afirmou que o caixa 2 eleitoral é uma “prática generalizada” no Brasil e no mundo.

“Nosso preço [do serviço de marketing eleitoral] é fixado de acordo com as necessidades da campanha. O cliente nem sempre concorda em fazer esse pagamento pela forma oficial”, disse.

Santana disse que cobrou quase R$ 60 milhões do PT pela campanha de 2010, e outros R$ 70 milhões em 2014.

A conta da offshore Shelbill, usada por Santana para receber os US$ 4,5 milhões de Scornicki – e outros US$ 3 milhões da Odebrecht –, também recebeu caixa 2 de campanhas fora do Brasil desde 1998.

“É um constrangimento profundo, é um risco, é um ato ilegal. Eu acho que precisa-se rasgar o véu de hipocrisia que cobre as relações políticas eleitorais no Brasil e no mundo”, diz.

Tags

Últimas Notícias


Nós recomendamos